Aquele jogo da Taça frente ao Paredes, na temporada de 2002/03, não foi um jogo normal.
Para além de ter sido a última vez que o menino prodígio com a essência do futebol de rua em si, Lixa, vestiu a camisola do Rei, ninguém se lembrará da partida em si pelo resultado (a propósito, o Vitória venceu por três bolas sem resposta).
Neste dia 18 de Dezembro, na antecâmara do Natal, todos os olhos estavam em António Alberto Pimenta Machado e na curiosidade se iria aparecer ao jogo, visto o seu interrogatório judicial ter acabado nesse dia.
Comecemos a história pelo princípio.
Num Domingo à tarde, pela hora de almoço, a bomba estourava: o presidente do Vitória era detido para interrogatório, num acto que Avelino Ferreira Torres, presidente na altura da Câmara do Marco de Canavezes, qualificou de uma "filha da putice."
Suspeito de crimes de peculato e de falsificação, foi levado para a Polícia de Judiciária de Lisboa, após denúncias. Tal levou a uma rusga da entidade policial à sede do clube, uns meses antes, em busca de contratos paralelos. Nesse dia, o Vitória colaborou com a justiça, ainda que Pimenta pedisse para não ser comparado com o Benfica e com Vale e Azevedo.
Porém, a suscitar a detenção esteve mesmo a transferência de Fernando Meira e os 450 mil euros (90 mil contos) pagos pelo Vitória a título de comissão pela transferência para o Benfica do jogador Fernando Meira. A verba foi debitada à Sportmédia, uma empresa sediada na ilha de Niue, um conhecido paraíso fiscal localizado no arquipélago de Alofi, no oceano Pacífico, firma à qual foi apreendida também diversa documentação. Um dos enigmas deste negócio é o que se relaciona com o representante da Sportmédia em Portugal, um indivíduo que supostamente terá intermediado a transferência do jogador, mas do qual as autoridades não encontraram qualquer rasto posterior a 1993.
Outras irregularidades detectada ativeram-se na situação fiscal do clube, reconhecidas na confissão de Pimenta em horário televisivo da existência de "contratos-extra" no valor de cem mil contos. Depois de descoberto, segundo Pimenta, para evitar o crime fiscal, pagou cento e quarenta mil euros, ainda que este assumisse que o clube tivesse saco-azul, como todas as outras entidades. Refira-se que, segundo a investigação, entre estes circulariam as diferenças entre os contratos efectivos e os contratos contrafeitos, havendo, nomeadamente, dúvidas quanto ao destino dessas avultadas verbas.
Refira-se que, durante cerca de cinco anos, praticamente todos os movimentos financeiros do clube foram efectuados através das contas pessoais do seu presidente, tornando a contabilidade deste em grande parte dependente da contabilidade pessoal do seu líder. Tal devia-se ao facto de o Banco de Portugal ter aplicado ao clube uma sanção de inibição do uso de cheques, em consequência de um processo movido pelo Estrela da Amadora, por ter sido devolvido um dos títulos camarários que se destinavam ao pagamento da transferência dos jogadores Paulo Bento e Ricardo Lopes.
Depois de ser ouvido, ao presidente do Vitória ser-lhe-ia aplicada uma caução de um milhão de euros, bem como ordenada a apreensão do seu passaporte, para além do obrigatório termo de identidade e de residência e viajaria, de imediato, para Paredes, para acompanhar que, nesse dia, ultrapassava mais uma eliminatória da Taça de Portugal.
Um dos processos mais mediáticos do futebol português estava a começar...