A Panenka não é uma revista de futebol. É a revista de futebol!
Criada na Catalunha é aconselhável a todos que queiram desintoxicar da putrefacção da imprensa desportiva diária, em que se fala sempre dos mesmos, onde estes são constantemente adulados e idolatrados e onde os outros clubes são tratados como filhos de um deus menor.
Por isso, não nos surpreende que este texto que traduzimos e transcrevemos tenha saído nessa revista. Jamais poderia ser escrito em Portugal, pois iria contra a doutrina dominante de que só existem três clubes. Que não há adeptos dos outros emblemas.Há, sim...e temos orgulho em dizer que o Vitória será dos porta-estandarte desses emblemas que fazem gala de se revoltarem contra o sistema instituído, contra o status-quo vigente.
E, agora, deleitem-se...
"GUIMARÃES TERRA DE CONQUISTADORES
Em Guimarães mantém-se essa tradição romântica de passar o futebol de pai para filho. Soubemo-lo logo que entrámos no estádio, quando uma frase debaixo das bancadas nos chamou a atenção: “Meu pai dizia: meu filho, defende o clube da tua cidade”. Aquilo, mais do que uma mensagem ou um slogan, parecia um testamento. Um legado. Uma herança. Quase uma obrigação, como nos velhos tempos em que os jovens se casavam para ajudar nos negócios da família. A paixão de Guimarães, essa pequena cidade no norte de Portugal, lembra-nos que ainda há cantos do mundo onde a bola se torna uma ligação à vida.
Assim que se chega à cidade, as varandas saúdam-nos com as bandeiras do clube. Em Portugal, os portugueses são românticos: cumprimentam-se com beijos na face, lêem o jornal em silêncio e são fiéis à sua equipa. Não se vêem camisolas do Porto ou do Benfica, apenas o preto e branco do equipamento do Vitória. Aqui chamam-se os ‘Conquistadores’. No início, suspeitámos que se devia a alguma lábia dos portugueses, mas depois de várias horas a passear pelo centro, a história bateu-nos à porta com referências constantes a D. Afonso Henriques, o primeiro monarca português e, claro, nascido em Guimarães. Por isso, reza a lenda - e eles próprios nos confirmam - que esta cidade é o berço de Portugal.
Joan Miró dizia que “sentia a necessidade de atingir o máximo de intensidade com o mínimo de meios”, e é assim que os Vimaranenses vivem a sua vida. Não precisam de luxos; tudo o que precisam é de uma boa bebida antes do jogo nos bares perto do campo e, acima de tudo, a companhia das suas gentes. Foi ali, naquele preciso momento, que nos apercebemos da profundidade da sua paixão. Quando atravessaram a entrada do estádio, 20 000 almas uniram-se numa só voz, cantando o hino do Vitória a capella, como se fosse a última vez que pudessem exprimir tudo o que sentiam pela sua equipa. Tínhamos ouvido falar bem destes rapazes, mas o que vivemos nessa tarde foi o mais parecido com um sonho acordado.
Durante a viagem, estava a ouvir a música Hamburguesas, de Carolina Durante, em loop. À medida que ia ouvindo a letra, apercebi-me que a canção tinha tudo para se tornar numa daquelas que, com o tempo, me faria pensar automaticamente em Guimarães. Numa parte do refrão, Diego Ibañez, o vocalista da banda, diz-nos que “na vida há coisas bonitas: hambúrgueres, futebol, a minha mãe”. A esta lista eu acrescentaria os pastéis de Belém, o cheiro a gasolina, as nectarinas e, claro, tudo o que tenha a ver com Vitória."
Agradecemos à Panenka e ao jornalista Manuel Montero por tão perfeita e cuidada descrição do Vitória e das suas gentes...