Paulinho Cascavel fora a grande referência vitoriana naquelas duas temporadas que actuou de Rei ao peito. Com efeito, entre 1985 e 1987, o lendário goleador brasileiro causou o terror nas defesas adversárias, apontando golos atrás de golos e suscitando a cobiça de outros clubes.
Por isso, acabaria por ser vendido ao Sporting, onde na sua primeira temporada fez que na Cidade-Berço fizera (muito!) bem: golos e mais golos, ao ponto de ganhar pela segunda vez consecutiva a Bola de Prata, prémio distintivo dos máximos goleadores do campeonato.
Porém, iria acabar aos poucos por perder o lugar no centro do ataque dos Leões. O presidente Sousa Cintra, na sua célebre impaciência de vencer um título que teimava em não chegar, não olhava a esforços para reforçar a sua equipa, buscando reforços entre reforços. Entre eles, estava Careca, que Cinta, dentro da sua linguagem tradicionalmente caracterizada por constantes hipérboles, diria ser o "novo Eusébio." Por isso, Paulinho Cascavel haveria de perder espaço e tornar-se dispensável, ao ponto de naquela temporada de 1990/91 tornar-se dispensável.
Simultaneamente, no Vitória, que fizera no exercício de 1989/90 uma época de bom nível, estando uma volta do campeonato completa sem perder, acabando no quarto posto, despontara um lateral de bons recursos técnicos, velocidade de ponta apreciável e um pulmão inesgotável que, no sistema de 3-5-2 preconizado por Paulo Autuori, permitia-lhe fazer o flanco direito na sua totalidade. Era Nando e andava nas bocas do mundo, com clubes de maiores recursos financeiros a piscarem-lhe o olho... em especial, o Sporting que, através do seu presidente assumia que "Amanhã, vou falar com Pimenta Machado. O Sporting está interessado em Nando e não o esconde."
O presidente dos Conquistadores, esse, na sua tradicional retórica, haveria de ironizar dizendo "Quanto muito é a mesma coisa que eu ter interesse no Careca do Nápoles. Uma coisa é ter interesse, outra é ter os meios para se concretizar interesse." Ainda assim, haveria de lançar um remoque que de inocente tinha pouco ao firmar que "Gostava francamente de ter o Paulinho Cascavel em Guimarães. O Paulinho deixou muitas saudades. Seria bem recebido."
Atendendo a esse sentimento, admitia a possibilidade da troca, ainda que seguindo essa rota de negócio "... o Sporting teria de nos dar o Paulinho Cascavel e uma determinada quantia em dinheiro...", pois, "não se esqueça que o Nando tem X anos de idade e o Paulinho tem X mais Y. isso também conta."
Porém, de um momento para o outro, tudo mudaria. Num infeliz estágio ocorrido no Brasil, Nando seria alvejado com uma bala, arruinando-lhe a transferência. Cascavel, esse, acabaria a actuar no Gil Vicente, onde não foi feliz, e só voltaria a vestir a camisola vitoriana nos veteranos...algo que, ainda, hoje faz com indesmentível e inegável prazer.