I - Já é oficial. Daniel Sousa não é mais treinador do Vitória, tornando-se o treinador, desde Genecy, o primeiro da história do clube, com o período de permanência mais curto ao leme vitoriano. Foram 19 dias de liderança da equipa principal vitoriana, o que parece denotar que percebeu-se facilmente que a sua escolha foi um erro.
II - Erros desses, infelizmente, nos últimos anos têm sido recorrentes na política desportiva vitoriana. Bastará lembrar a inusitada aposta em Paulo Turra, cujas conversações foram encetadas através de uma mensagem no Facebook Messenger e que demonstram o modo pouco cuidado de analisar a escolha para o cargo mais importante numa equipa de futebol: o de treinador.
III - Queremos crer que a a avaliação das capacidades, do modo de ser e de agir de um treinador deverá ser feita a montante das suas escolhas. Em Inglaterra é tradição fazer-se uma entrevista aos candidatos ao emprego, antes da decisão. Ao invés, tal como ocorreu no famigerado processo de despedimento de Paulo Turra, depois de ter percebido que o seu modo de interagir não se coadunava com o plantel, é que o mesmo foi demitido... ao contrário do que é dito "quando se percebe que não dá, é melhor cortar o mal pela raiz...", melhor seria mesmo nem deixar esse "mal" fazer parte da nossa realidade.
IV - Não queremos com isso dizer que Daniel Sousa foi uma má escolha ou até foi bem despedido. Vinha de uma experiência traumática no eterno rival, mas tinha feito um bom trabalho em Arouca, ainda que dimensão deste não tenha qualquer comparação ao Vitória. Porém, desde logo, o seu discurso não terá gerado a empatia necessária, o entusiasmo esperado... mas, no fundo, era o mesmo homem de sempre, ainda, que à excepção do emblema que treinou no início da temporada, com menor exposição mediática.
V - Terá falhado, contudo, na incapacidade de dar o seu cunho pessoal à equipa. O Vitória apresentou as mesmas virtudes que tinha com Rui Borges, mas também os mesmos defeitos. Até a patologia dos golos sofridos no último minuto não se alterou. Terá tido o azar de não ter jogos da Liga das Conferências para mascarar a inenarrável série de empates no Campeonato, bastando lembrar que desde a sexta jornada, o Vitória, apenas, venceu duas partidas.
VI - É verdade que a derrota em Elvas é das mais humilhantes da história do clube. Sem tirar qualquer mérito ao simpático e hospitaleiro emblema alentejano, a culpa de tal ter sucedido foi do Vitória e dos seus intérpretes. Também, é verdade que em certos períodos, o treinador pareceu perdido, com uma linguagem corporal resignada e nem mesmo quando Lucão caiu prostrado no terreno, quando o Vitória já perdia por duas bolas a uma, foi incapaz de ser proactivo. Com efeito, ao invés de aproveitou essa paragem de jogo para chamar os seus homens, corrigir posicionamentos e até adoptar uma táctica de continência, optou por deixar os seus atletas a trocar a bola no campo, sem qualquer golpe de asa.
VII - Não obstante isso, será bom de lembrar que todos os presidentes tiveram o seu "Elvas." Pimenta teve o Sacavenense, o Louletano ou o Moreirense. Magalhães, o Mafra. Emílio, o Aves. Júlio Mendes, a Oliveirense. Pinto Lisboa, o Sintra. Porém, nesse momento, pese embora as diferenças no seu modo de agir e reagir perante a adversidade, souberam manter a cabeça fria e não cortar a do treinador de imediato. E, na maioria dos casos tiveram razão... Agir de cabeça quente, após uma derrota, poderá ser contraproducente!
VIII - Tal aferir-se-á por mais uma negociação a levar a cabo decorrente da rescisão contratual, depois de já terem ocorrido pugnas com Paulo Turra ou Álvaro Pacheco. Mais do que isso, existirá a questão do período experimental de 30 dias que poderia ter protegido o Vitória. Mas, as partes, no momento da realização do vínculo contratual, poderão ter prescindido dele. E, ainda para mais, como os rivais puderam comprovar, Daniel Sousa não é um técnico fácil de negociar uma rescisão.
IX - Segue-se, agora, Luís Freire... que lhe seja dado a segurança e estabilidade para ler a cabo um bom trabalho, atingindo os objectivos preconizados. Porque, outra aposta falhada, só confirmará a trituradora de treinadores em que se tornou o Vitória. Na verdade, um clube que, nos últimos anos, projectou Rui Vitória, Luís Castro ou Rui Borges, também tem sido capaz de perder, de modo inesperado outros, como Pepa, Moreno ou Álvaro Pacheco.
X - VIVA O VITÓRIA...SEMPRE!