I - Começam amanhã, em matéria de jogos, os desafios de Daniel Sousa enquanto treinador do Vitória. Uma prova de vida para o treinador, depois da desilusão que foi a aventura no clube da cidade rival, onde a análise dos seus méritos ficaram cingidos a uma singela na Liga principal.
II - Porém, o desafio de treinar o Vitória, para além de extremamente aliciante (como disseram Rui Vitória e Sérgio Conceição quem treina o Vitória, está preparado para qualquer desafio) , acarretará uma série de desafios, uns herdados da gestão do anterior treinador, Rui Borges, e outros que o futuro ir-lhe-á colocar.
III - No que toca aos primeiros, é certo que o Vitória jogava bom futebol. Com alguns lapsos e lacunas que a imprensa que quis vender a imagem do anterior treinador a todo o custo tem tratado de ocultar. Mas que os vitorianos bem sabiam quais eram e o quanto com elas sofriam. Na verdade, apesar da qualidade de jogo do Vitória ser efectivamente acima da média, nunca a frase de Luís Freitas Lobo no programa da SportTV em que entrevistou os jogadores Tomás Handel e João Saraiva Mendes terá feito tanto sentido: "é uma equipa de médios." E, assim tem sido. Um conjunto com claras lacunas na hora da finalização, onde a incapacidade de ferir de morte o adversário custou-lhe vários pontos, mas, também, com excessivos "tremeliques" defensivos, bastando lembrar o nefasto desenlace das partidas contra o Boavista, Estrela da Amadora e, ainda o da despedida do treinador transmontano, o Nacional.
IV - Dotar a equipa de equilíbrio será o grande desafio dentro de campo do novo treinador. Sem ser necessariamente tão espectacular, torná-la mais cínica. Não tendo vergonha de chutar para a bancada, perder o pavor dos últimos minutos. Poder ser segura defensivamente (a falácia que o Vitória defendia bem com Borges é mesmo só isso e usada por paineleiros que só viram os Conquistadores a actuarem contra a equipa deles) e ao mesmo tempo eficaz na hora da finalização será um verdadeiro puzzle que terá de ser montado de modo parcimonioso.
V - Além destes, estamos prestes a entrar no preocupante mês de Janeiro. Aquele mês que para muitas equipas é letal em termos de objectivos desportivos. Desde o início da temporada foi propalado que o Vitória teria de efectuar vendas para equilibrar a balança do deve e do haver. Para os resultados líquidos não assumirem a proporção dos últimos. Mas, como conciliar isso com a ambição desportivo? Estará Daniel Sousa em consonância com essa filosofia e disposto a perder algumas das suas mais cintilantes pedras, quando o Vitória está em todas as provas que interessam e com legítimas aspirações em todas elas?
VI - Outros desafios batem à porta do treinador. Desde logo, partindo do princípio que o modelo de jogo será similar ao de Rui Borges, como irá procurar tirar partido de alguns jogadores mais esquecidos pelo antigo treinador. Falamos de homens como Miguel Maga, Tomás Ribeiro, Marco Cruz e, mesmo, José Bica, que poderão ser olhados de outro modo e merecedores de novas e mais consistentes oportunidades. Da sua avaliação poderá passar a proposta (ou não!) para nomes como Jorge Fernandes, Mikel Villanueva, João Saraiva Mendes ou Nélson Oliveira renovarem.
VII - Desta capacidade de conciliação dos diversos elementos do plantel aliado ao já existente desgaste competitivo numa equipa que nesta altura da temporada já "conta com um campeonato nas pernas" poderá estar um final feliz da temporada. Ora, sendo Daniel Sousa um técnico jovem, com pouca experiência como treinador principal neste tipo de provas, será um desafio como irá conseguir gerir esta multiplicidade de partidas. Um desafio que Rui Borges estava a passar com distinção, conseguindo um histórico segundo posto na fase de liga da Liga das Conferências.
VIII - Tudo será mais fácil com uma espiral de triunfos a suportarem estes e outros desafios. Que essa sequência seja desencadeada na sua estreia, em Faro, até para o comboio europeu não ficar demasiado difícil de apanhar... algo que, se acontecer, o novo treinador nenhuma culpa terá!