Aquela partida referente à segunda jornada do campeonato de 1986/87, apesar de não ser disputada em Guimarães, devido a interdição do, então, Municipal, previa uma grande enchente. Desde logo pelo entusiasmo que o Vitória treinado por Marinho Peres já ia gerando, mas, também, pelo adversário, o FC Porto, trazer consigo grande entusiasmo. Além disso, o estádio escolhido para a contenda, o de Fafe, de reduzidas dimensões, levava a crer que o mesmo estivesse cheio como um ovo.
Porém, como escreveu o jornal Record de 02 de Setembro de 1986, seriam "apurados 6 mil contos em 13 mil prováveis", contas que o dirigente vitoriano, António Cunha, concretizaria ao dizer que "quando começamos a ver os bilhetes que sobraram no final do jogo, vimos logo que levamos banho na receita. E isso só foi possível devido aos bilhetes falsos pois o campo devia ter uma assistência a rondar os 16 mil espectadores." As contas para o dirigente eram, pois, fáceis de fazer já que "o preço dos bilhetes estava assim distribuído: 1 200$00 a central, 700$00 a lateral, 500$00 a superior e 350$00 a geral. Face aos bilhetes postos à venda resultaria uma receita bruta de 13 842 500$00 se a lotação esgotasse." Ora, como já referimos, nos cofres vitorianos entraram, apenas, seis mil contos o que levará a perguntar o que sucedeu.
Tal era explicado no mesmo jornal ao dizer que o Vitória fora atacado de modo inesperado. Atacado por "uma rede de falsificadores de bilhetes que colocou à venda uma grande quantidade de ingressos" que, como já escrevemos, "afectou fortemente o saldo obtido pelos vimaranenses."
Todavia, não se pense que a direcção vitoriana não tomou todos os cuidados, trabalhando em conjunto com a AF Braga e a PSP para evitar a entrada dos ingressos, chegando a picotá-los com o código do clube, algo que se veria a ver os falsários seriam, igualmente, capazes de replicar, como prova da sua determinação em fazerem valer os seus intentos.
Porém, os medos haveriam de se materializar no dia do jogo, quando "no Domingo de manhã recebemos um telefonema de uma pessoa que não se identificou, telefonema esse vindo do Porto. Informando-nos da existência de bilhetes falsos e que estes se encontravam numa carrinha Bedford vermelha, cujo condutor se chamava Bernardino e num Renault verde-escuro conduzido por um tal de Tomé."
Apesar de os criminosos não terem sido detectados, "... com o aproximar da hora do jogo, os vendedores dos tais bilhetes começaram a aproximar-se do estádio, e somente quando já havia entrado grande número de pessoas detectámos os bilhetes falsos." O herói seria um fiscal da AF Braga, que pelo tacto perceberia que os ingressos falsos eram de papel mais macio e não possuíam no verso a designação F.P.F. em marca de água. Não permitindo a entrada dos adeptos com esses bilhetes, "as pessoas ludibriadas e indignadas (...) indicaram os seus vendedores às autoridades..."
De imediato, seriam presos seis elementos que moravam no eixo do Porto, Vila Nova de Gaia e Felgueiras. Dois seriam-no por não terem identificação consigo e os remanescentes por terem sido interceptados em flagrante delito. Seriam apresentados ao Tribunal de Guimarães no dia seguinte, para sempre postos em liberdade e aguardarem assim o desenrolar do processo. Mas, o Vitória haveria de ficar com o prejuízo, confortando-se com o extraordinário jogo de futebol com que presenteou os seus apaniguados, apesar do empate a dois final.