COMO BRAVO, UMA DAS PRIMEIRAS LENDAS VITORIANAS, CONTOU NA PRIMEIRA PESSOA, OS PASSOS TENDENTES AO SURGIMENTO DO VITÓRIA

Trazemos um documento histórico... que, provavelmente, terá passado incógnito na altura e sofrido da inevitável erosão dos tempos. Falamos da formação do Vitória, contada na primeira pessoa, por um homem que a viveu e que foi dos primeiros grandes jogadores da história do clube.

Aludimos a António Pádua Magalhães Ribeiro, um nome que assim recitado pouco dirá. Mas se falamos de Bravo, o "Bravinho" dos primórdios do futebol vitoriano, os que vão acompanhando os nossos escritos chegarão facilmente a quem falamos.

Nascido em 1915, jogou no Vitória até 1943, em tempos diferentes dos de hoje. Por isso, em entrevista ao Notícias de Guimarães, em finais de 1992, por altura do 70º aniversário do clube, reconhecia que apesar de não ser pago, ter ganho muito com o Vitória, "já que ganhei a admiração de todo o público e amizade da família Pimenta Machado. Foram eles que me formaram como Homem e Chefe de Família. Na sua empresa era sub-gerente da secção comercial de moveis. Aqui aprendi de forma que mais tarde abri uma casa comercial, embora contra a vontade do sr. Alberto Pimenta Machado."

Porém, muito antes disso, o futebol desempenhara o seu papel de atracção, desde menino, uma vez que "morava junto ao Quartel de Infantaria 20 e os meus tempos eram passados na Parada do Quartel onde os soldados faziam os tradicionais exercícios (...) que se prolongavam com uns joguinhos de futebol." Recordando que o RI20 foi dissolvido logo após a instauração do Estado Novo, será bom de concluir que Bravo, desde calções, sentia um enorme fascínio pela bola, pelo jogo e que se prolongaria nos contactos que começou a ter na Chapelaria Macedo. Na verdade, "aqui era o encontro de militares com militares e jogadores, já que o proprietário da chapelaria cumprira serviço militar em Lisboa e na capital dava uns toques. Nomeadamente teoria do futebol era com o Macedo, razão porque a chapelaria era a escola."

Escola essa que, segundo ele, levou ao surgimento do primeiro campo de futebol, essencial para o Vitória aparecer. "Um dia o Tenente Gervásio, o Tenente Campos de Carvalho e o Macedo decidiram falar com o proprietário do terreno onde nos anos 20 se realizavam as Touradas...", de modo a que ali se pudesse jogar futebol, viste tal ser proibido nos terrenos do cemitério. Nascia, assim, o Campo Zé Minotes e para a equipa foram chamados os "Mendes de Fafe" por serem conterrâneos dos oficiais. Como o próprio recordou, o Zé Minotes "era somente um campo de futebol, não havia balneários, pois no final dos jogos o merecido banho era no Chafariz do Jardim do Carmo."

Daí, passou-se para o Campo da Perdiz, junto ao Cemitério, onde posteriormente foi a Tourada e uma sucata, ainda que tudo mudasse rapidamente já que "de noite para o dia a vedação do Campo da Perdiz apareceu toda destruída."

Atendendo a isso, urgia levar a cabo outras medidas, recorrendo a uma figura relevante no desenvolvimento vitoriano e que era tio dele. Deste modo, "nessa altura um grupo de rapazes da terra que pelos campos do concelho faziam uma peladinha, nomeadamente os da Praça de Santiago, decidiram falar com o Sr. Carlos Machado que é meu tio, no sentido de os ajudar a formar uma equipa séria. O meu tio assumiu a orientação dos mesmos, tornando-se o Secretário Geral da equipa."

Porém, tudo, ainda era demasiado rudimentar, com a sede a ser implantada no nº7 da Rua de Santa Maria, numa sala emprestada, onde não existia mobiliário. Quanto à equipa, os nomes, pelo menos alguns deles, eram no mínimo sugestivos:

- Zeferino (Pafúncio);

- Albano

- Benjamim (Rei da Noite);

- António Secândido;

- Mário Entende;

- Armando Mateiro;

- Constantino Lameiras;

- António Fonseca;

- Rita;

- Virgílio;

- Domingos Pina;

- Mãe-Olhe-Ela

- Ricoca (que, futuramente, haveria de ir para a baliza, fruto de uma lesão de um guarda-redes, para não mais de lá sair;

- Pina

- Jaime Preto;

- Cunha.

Porém, sem campos, com o Vitória a ter de viajar pelos campos da região, algo tinha de mudar. Assim, os "jogadores reuniram-se e falaram com o meu tio para que ele diligenciasse no sentido de arranjar um campo. Assim foi, o meu tio mexeu-se e conseguiu um terreno no lugar de Benlhevai", que haveria de dar origem ao campo com o mesmo novo, erigido graças ao labor (e ao bolso) do tio de Bravo, mas também de outros vitorianos que ajudaram aos trabalhos.

Seria nesse momento que Bravo se tornaria peça inamovível do Vitória, substituindo o Mãe-Olhe-Ela, sendo o treinador Puskas. Porém, seria por pouco tempo, já que, depois de ser constituído um Conselho Técnico, "a primeira atitude deste conselho técnico foi mexer na equipa e a primeira vítima fui eu, ao ser substituído pelo Carteiro. Um extremo esquerdo que veio do Maria da Fonte e já veio ganhar dinheiro como jogador." Porém, como com este Conselho o Vitória seria incapaz de revalidar o título conquistado no ano anterior, "...perante estes resultados, o Sr. Augusto Mendes - comerciante e outros - decidiram ir ao Comercial de Braga buscar o Alberto Augusto e ele veio." E, a partir daí, a história haveria definitivamente de mudar...

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