Já aqui muito se escreveu sobre António Mendes, o Pé Canhão, que chegou ao Vitória proveniente do Benfica no início da temporada de 1962/63.
Talentoso, dono de um pontapé bombástico como a alcunha indiciava, aliava isso a um gosto pouco secreto pelos prazeres da vida, que incluíam aventuras nocturnas e uma indisfarçada paixão pelo sexo oposto.
Com tamanhas características, era uma tarefa quase dantesca conseguir comprometê-lo com a equipa. Fazê-lo olhar para as obrigações da vida futebolística como o profissional que se queria que fosse e que, provavelmente, incapacidade o impedira de fazer parte da linha avançada do Benfica, naqueles dias, provavelmente, a melhor equipa da Europa.
Assim, também, pensou o treinador francês Jean Luciano, que chegado a Guimarães na temporada de 1965/66, rapidamente fez uma exigência à direcção presidida por Manuel Cardoso do Vale. Deste modo, o talentoso Pé Canhão teria de ser dispensado, de forma a manter-se a disciplina e harmonia do grupo... longe estava, ainda, o técnico gaulês de saber que teria de lidar com a rebeldia e a insubordinação no seu expoente máximo no corpo de um brasileiro que estava para chegar, chamado Djalma.
Confrontados com o problema, a direcção dos Conquistadores teve de usar do seu melhor jogo de cintura, para não causar insatisfação a um treinador no qual apostavam de modo assumido mas, simultaneamente, em não perder um jogador ao qual iam permitindo alguns excessos, mas que os compensava em talento e, acima de tudo... em golos!
Deste modo, (parecia que) acediam aos desejos do técnico gaulês. Porém, com a desculpa de não o poderem colocar a treinar à parte, mantinham-no no grupo. Era o modo de ele continuar entrosado com aqueles que fariam parte do conjunto que esperavam que integrasse como titular. À medida que o tempo ia passando, assumiam a sua incapacidade perante o treinador... de encontrar alguém que quisesse ficar com o avançado, como se tivessem movido mundos e fundos para arranjarem-lhe colocação.
Sem hipótese de ver-se livre de Mendes, Luciano teria de contar com ele, num balneário tão genial quanto explosivo, ao lado de Djalma. Haveria de agradecer a decisão matreira dos responsáveis vitorianos já que o Pé Canhão em duas temporadas com Luciano marcou 38 golos, chegando mesmo a ser pré-convocado para o inesquecível Campeonato Mundial de 1966.
E pensar que esteve prestes a ser-lhe mostrada a porta de saída por iniciativa do treinador...