Estávamos em Outubro de 1996...
O futebol português vivia tempos de ebulição por causa das arbitragens, de situações controversas como o caso Zahovic que houvera abandonado o Vitória para rumar ao FC Porto, pela luta de poder na Liga de Clubes, em que Valentim Loureiro cedera o lugar a Pinto da Costa. Em suma, uma verdadeira selva que, por esses dias, ainda se tornaria mais sombria e tenebrosa com o célebre e delirante "off-record" do treinador portista, António Oliveira, onde, supostamente, sem saber que estava a ser gravado jurou ter dentro do seu cofre o carimbo do caso N'Dinga, bem como garantira que se soubesse morrer no dia seguinte "vou por aí abaixo e f... meia-dúzia", entre outras considerações sobre senhoras bem da sociedade lisboeta e acerca dos filhos do director do jornal Record, Rui Cartaxana, na altura.
Num cenário em ebulição, o duelo entre Pimenta Machado e Pinto da Costa, que se deveria travar na sede da Liga, prometia, já que como escrevia o Record de 14 de Outubro de 1996, "Pinto da Costa e Pimenta Machado vão estar hoje frente a frente na reunião da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, depois dos constantes ataques mútuos que os dois têm vindo a protagonizar nos últimos tempos sobre a transparência do futebol." Uma reunião que prometia ser tão picante que Pinto houvera disto que "ao senhor Pimenta Machado só vou responder na Assembleia-Geral da Liga, durante a qual vou dizer qual é a transparência que ele pratica em termos de futebol, dentro e fora das quatro linhas, em termos fiscais de finanças. Aliás, vou propor que essa parte seja aberta à Comunicação Social." Pimenta, esse, como sempre, não se ficaria, mostrando-se feliz pela medida tomada em tornar pública a reunião, dizendo que "é de louvar a atitude do senhor presidente do FC Porto e da Liga, porque a gente não gosta de ver o homem de costas voltadas para a câmara..."
Porém, essa seria uma das provocações, com Pimenta a lembrar que "ele não se esqueça de uma coisa. É que os Tapies em França, também tiveram grande poder e, agora, estão na iminência de serem presos porque tudo se desmoronou.", ao que o seu homólogo portista retorquiu que "na próxima assembleia da Liga veremos quem são os Tapies."
Num diálogo a subir de tom, Pimenta não perderia tempo em afirmar que "rejeito ataques pessoais do presidente do FC Porto à minha pessoa. Temos substracto e personalidades diferentes e eu jamais utilizarei a estratégia dele. Infelizmente, está a perder a casquinha", ao que Pinto diria que "nessa altura, e com documentos, provarei que as pessoas lhe chamam doutor indevidamente. Eu continuo a dizer sr. Pimenta Machado."
Por fim, Pimenta explicaria as razões de tanta indignação, já que " é assim que se fabrica um campeão em Portugal. Por isso, temos de encarar com seriedade os problemas para que o futebol nacional seja reabilitado para que se acabe de vez com o tráfico de influências e o compadrio entre os presidentes do FC Porto e da arbitragem", defendendo-se Pinto com "não me admira que os árbitros tomem posição contra quem os ofende. O FC Porto já ganhou campeonatos com os árbitros sorteados e já os ganhou com os árbitros sem serem sorteados. É ridículo! Só na cabeça do sr. Pimenta Machado é que isso pode ser insinuado. Não tenho paciência para aturar palhaços, sejam pobres, sejam ricos."
Tal afirmação provinha do início da "troca de mimos entre Pimenta Machado e Pinto da Costa (...) após as críticas do primeiro proferidas na SIC à apreciação do trabalho do árbitro do U. Leiria-FC Porto, Pinto Correia, e às quais Pinto da Costa respondeu: Não tenho paciência para aturar palhaços! O presidente do V.Guimarães contrapôs, afirmando que o propósito do presidente do FC. Porto e da Liga era branquear a arbitragem do jogo de Leiria." Críticas, essas, que passavam pelo facto de "neste momento verifica-se que os erros de alguns árbitros são sempre em benefício de um outro clube. Concretamente, o FC Porto."
Um verdadeiro combate de gigantes!