Quando as bolinhas do sorteio da UEFA indicaram que em sorte o Vitória de Jaime Pacheco iria ter de encontrar o Parma, treinado por Carlo Ancelotti, na primeira eliminatória da Taça UEFA de 1996/97, provavelmente nem o mais optimista dos adeptos auguraria o momento histórico que iria presenciar.
Porém, mais uma vez se provou que para os Conquistadores não existem impossíveis.
Assim, na antecâmara da primeira mão, disputada em Trieste, por impossibilidade de utilização do Ennio Tardini, Jaime Pacheco pronunciou uma frase que entrou na centenária história do clube: " - Vamos jogar ao ataque, fechadinhos cá trás"!
E assim sucedeu durante grande parte daquela noite de 10 de Setembro de 1996. O Vitória, a actuar com os defesas centrais Alexandre e Arley a grande nível, aguentou o poderio ofensivo de homens como Zola, Dino Baggio ou Chiesa que, pouco antes do intervalo, seria capaz de fazer a bola beijar as malhas de Neno.
Pensava-se que esse momento iria ser a derrocada da estratégia vitoriana. Puro dos enganos! Os Conquistadores aguentaram-se estoicamente, para aos 77 minutos, Gilmar num golpe felino de cabeça bater Bucci, fazendo a Europa abrir a boca de espanto. Fruto, talvez, de algum encantamento vitoriano, a equipa italiana, outra vez por Chiesa haveria de marcar outro tento que lhe garantiu o triunfo... mas que deixava, indiscutivelmente, as portas abertas para um sonho lindo!
Em Guimarães, 15 dias depois, na estreia europeia de um dos mais lendários guarda-redes de todo o sempre do futebol mundial, Gianluigi Buffon, o Vitória foi imenso, irressistível e arrebatador.
O festival começou logo no início com uma oportunidade desperdiçada. Porém, o primeiro momento de festa branca, haveria de surgir aos 16 minutos, quando Vítor Paneira, isolado perante o Buffon, pleno de classe, bateu o, então, jovem guarda-redes.
Era a esperança que inundava Guimarães e o Vitória. Um momento de libertação imenso, capaz de provar que no futebol jamais existirão impossíveis.
Pese embora a reacção de um dos clubes, na altura, com maior pedigree na Europa e que haveria de se classificar no segundo posto da Série A no final daquela temporada, o Vitória não recuou no terreno...e quando o fez foi de modo estratégico! Com um único intuito: lançar letais contra-ofensivas que colocavam em pânico o último reduto adversário.
Seria nessa toada que Ricardo Lopes fez o segundo tento vitoriano, logo no início da segunda parte. A partir daí, seria contar os minutos do relógio, esconjurar as tentativas do adversário, mantendo-o em sentido com as bolas milimétricas de Vítor Paneira, as arrancadas demolidoras de Capucho ou a velocidade felina de Ricardo Lopes.
Em Guimarães, caía uma equipa icónica e das mais vencedoras dos finais do século XX!