O futebol é feito da tomada de decisões, de escolhas. Tudo no jogo gira em torno destas.
Os adeptos escolhem presidentes. Estes escolhem treinadores que, por sua vez, devem seleccionar jogadores. Terá sido essa necessidade de decidir que terá levado a que o Vitória prescindisse de um jogador que se tornou numa peça fundamental numa das melhores equipas do mundo, bem como na selecção brasileira.
Estávamos na pré-temporada do exercício de 1993/94.Depois do susto da época anterior, em que Marinho Peres foi incapaz de repetir o extraordinário trabalho que fizeram em 1986/87 sendo despedido, Bernardino Pedroto assumiu o controlo da equipa. Salvá-la-ia dos mares revoltos da despromoção, levando-a a bom porto e sendo confirmado como treinador principal para o exercício seguinte.
Com a missão de reconstruir a equipa, uma das primeiras caras nova a aparecer nos trabalhos, foi um brasileiro desconhecido, mas que parecia ter bons predicados. Alto mas com boa capacidade técnica, móvel e com "golo nas botas", o jovem proveniente do Tuna Luso apareceu a treinar, sem ainda ter contrato assinado. Era Giovanni.
Porém, como chegou, partiu, regressando a casa. Passado um ano já actuava no Santos com o beneplácito do Rei Pelé, assinando pelo Barcelona, treinado por Bobby Robson, dois anos depois. Mais do que isso, haveria de ser vice-campeão do mundo, no Campeonato Mundial francês de 1998, ao lado de Ronaldo Fenómeno.
O Vitória perdia um atleta que tinha todas as condições de tornar-se numa das suas maiores referências, aventando-se diversas teses, como a do treinador, devido à existente limitação de estrangeiros, ter de optar entre o jovem brasileiro e o esloveno Zlatko Zahovic que haveria de actuar três temporadas no clube, antes de sair para o FC Porto numa transferência polémica.
Passados uns anos, no jornal, o jogador que foi dezoito vezes internacional, haveria de explicar o que sucedeu e que ditou a sua partida. Segundo ele, após um mês de testes, houvera recebido a concordância do treinador para assinar. Enquanto tentava convencer o treinador, o Vitória esperava dois atletas jugoslavos que, por causa da guerra que eclodia nos Balcãs, não podiam viajar. Porém, no dia em que estava para comprometer-se contratualmente, Pimenta Machado foi a Lisboa buscar os ditos jogadores.
Seriam eles os escolhidos... e Giovanni teve de refazer a carreira de outro modo.
Para, provavelmente, pena de todos os vitorianos...