Aquela temporada de 1986/87 estava a ser épica. Gloriosa.
O Vitória lutava pelo título nacional e fazia carreira nas provas europeias, batendo o pé a gigantes do Velho Continente e sonhando, por isso, com um lugar na eternidade.
Por essa razão, muitos abriam a boca de espanto, surpreendiam-se pelo modo ousado e desinibindo como o Vitória tinha afrontado colossos como o Sparta de Praga e o Atlético de Madrid e o, sempre, difícil Groningen.
Assim, todos procuravam saber qual o segredo daquela equipa, já que, numa época em que a observação de jogos por via televisiva era quase uma miragem, os Conquistadores pareciam antever e perceber todos os truques dos adversários europeus.
Marinho Peres, o treinador, publicamente, atribuía o mérito à excelência do trabalho de observação dos adversários aos seus adjuntos: Paulo Autuori e José Alberto Torres, enviados em missão de espionagem para conhecer os segredos de tão renomados oponentes.
Porém, existia um segredo que Marinho revelaria a alguns amigos, em conversa informal. Na verdade, como era sabido, houvera sido colega de Johann Cruyff, um dos maiores nomes da história futebol mundial, no Barcelona. Mais do que colegas, tinham-se tornado amigos.
Fruto dessa amizade, mal soube que calhara em sorte à sua equipa o Atlético de Madrid, não hesitou. Pegou no telefone e contactou o amigo, que apesar de treinar, na altura, o Ajax, era um profundo conhecedor do futebol espanhol e que, de pronto, deu dicas que foram tidas como valiosíssimas no posterior êxito que sucedeu.
E se a fórmula resultou uma vez, porque não tentá-la novamente... ainda para mais, sendo o adversário seguinte da pátria de Cruyff, onde o neerlandês treinava? Assim, seria, novamente, o mago do futebol a dar valiosas informações para o Vitória bater o Groningen, adversário do Ajax no campeonato do país.
Pena foi, porém, o inesquecível número 14 da Laranja Mecânica não ter informações sobre o Borussia Mõnchengladbach... quem sabe se a história não teria sido diferente?