POR CAUSA DE UM ÁRBITRO...TIROS TROARAM DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL!

A temporada de 1962/63 trouxe as bases do Vitória que haveria de lutar pelo estatuto de quarto maior clube português na década.

Na verdade, depois de duas temporadas agónicas, com as receitas em franca quebra, a solução chegou através das milionárias (para a altura) vendas de Pedras e de Augusto Silva para o Benfica que, para além do dinheiro, garantiram a chegada a Guimarães de jogadores como Mendes, Peres, Manuel Pinto e Teodoro e os empréstimos de Zeca Santos e de Testas. Tal levou ao aparecimento de um Vitória completamente renovado, orientado pelo argentino José Valle.

Assim, a 21 de Outubro de 1962, na estreia daquele campeonato era uma equipa completamente diferente da que os adeptos haviam conhecido nos anos anteriores. Assim, o onze composto por Roldão; Silveira, Manuel Pinto, António Freitas; Daniel, Caiçara; Romeu, Virgílio, Teodoro, Mendes e Paulino entrou em campo para defrontar o Leixões com ânimos redobrados.

Não contava, porém, com uma inenarrável actuação do juiz Porfírio Silva. Nesse dia, o juiz “Expulsou (Manuel Pinto), disse e deu, depois, o dito por não dito, dando-se ao luxo de ir mais cedo para a cabine, não por pressa de se ver longe de Guimarães, ainda que para isso lhe sobejassem razões, pois demorou a toilette mais do que qualquer dama preocupada com o seu aspecto. Que pena não haver autoridade capaz de expulsar um árbitro!”

A indignação era fácil de explicar e dará quase um filme. Num lance de ataque vitoriano, a bola embatera na parte inferior da trave, ressaltando para dentro do campo, sendo prontamente repelido por um defesa leixonense. Sem qualquer hesitação, Porfírio apontou para o centro do terreno, dando a entender ter considerado que fora golo do Vitória.

Perante os protestos dos homens de Matosinhos a rodearem o árbitro, durante muito tempo, este permaneceu imóvel no centro do terreno. Até que, do nada, entrou no recinto de jogo, Edison de Magalhães, elemento da direcção do Leixões que convenceu o juiz a voltar atrás na sua decisão inicial, substituindo a decisão inicial por um lançamento de bola ao solo, junto à baliza da equipa adversária do Vitória.

A surreal decisão fez gerar momentos de insanidade absoluta. A polícia teve de entrar em campo para separar elementos de ambas as equipas, dispararia diversos tiros para o ar e dirigentes das duas equipas acabaram identificados, num verdadeiro regabofe de confusão e violência como, talvez, nunca se tenha visto em algum jogo na secular história do clube do Rei.

Atendendo à revogação da decisão inicial que validara o golo, os Conquistadores protestaram o jogo, tendo este acto inicialmente merecido provimento. Baseava-se, também, na confissão do árbitro que não tinha dado os descontos de tempo devidos, depois da confusão que ocorrera em campo, daí a alocução que fora a correr para o balneário, na citação que praticamente começou esta história. Porém, em sede de recurso, os leixonenses acabaram por reverter a decisão, entrando para a história o empate a um, com golo de Mendes, o primeiro dos oitenta e três que marcou pelo Vitória e uma profunda indignação pela atitude de um árbitro que até levou a que tiros troassem num campo de futebol!

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