PASSOS DE UMA RIVALIDADE ENTRE GUIMARÃES E VIZELA


Já aqui contamos da célebre viagem de comboio de adeptos vitorianos, em 1933, que, no regresso de uma partida com o Boavista em Negrelos, foram apedrejados no apeadeiro de Vizela. Também escrevemos que desses actos resultaram lesões em alguns, num claro sinal que as duas localidades sempre tiveram dificuldades em entender-se... mesmo quando pertenciam ao mesmo concelho.

Recuemos mais uns anos... até 1923, com o Vitória a dar os primeiros passos no futebol. Um clube a procurar afirmação e que procurava poder jogar com qualquer adversário. A 08 de Julho de 1923 estava do outro lado, o Sport Clube de Vizela, num jogo que terminaria mal e era indiciador do modo como se viam os representantes vimaranenses e vizelenses. Assim, segundo o jornal Pro Vimarane de Julho desse ano "o desafio, pelo nulo interesse que se verificou nem sequer lhe dispensamos duas palavras."

Contudo, com Vizela já a manifestar a vontade de se tornar em concelho, saindo da esfera vimaranense, a rivalidade seria levada ao extremo, levando o referido jornal a escrever que “queremos, no entanto, consignar aqui o nosso protesto veemente contra a forma como o garoto com o consentimento de alguém desta cidade, tratou os nossos visitantes, correndo-os com apupos e pedradas."

Era o sinal que Guimarães não conseguia lidar com tais propósitos da ainda freguesia, algo confirmado no número seguinte da referida publicação, datada de 04 de Novembro de 1926. Aí, sob o título de "O Concelho de Guimarães", escrevia-se que "Dez mil pessoas vibram do mais puro entusiasmo defendendo e pugnando pela integridade do Concelho! Honra aos Vimaranenses! Viva Guimarães, una e indivisível!"

Na verdade, tratou-se de um comício, onde o espírito bairrista, segundo o jornal, esteve bem presente. A defender a causa vimaranense estiveram o Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal José Domingos d'Araújo, o Cónego Alberto da Silva e Vasconcelos, Alfredo Dias Pinheiro, José Pinto Rodrigues, João d'Oliveira Bastos e Jerónimo Sampaio, que usando da palavra exaltaram as virtudes de um concelho unido. Tal, também foi confirmado "pelo povo de Pevidém, um dos maiores centros industriais do concelho, veio ontem em massa, precedido de uma banda de música, trazer aos vimaranenses a certeza do seu incondicional apoio e dizer-lhes toda a repulsa que sente pelos que pretendem o desmembramento do concelho."

Por isso, perguntava-se no jornal " (...) Porque será que a junta de freguesia de Lordelo, enviou um telegrama ao Sr. Ministro do Interior, protestando contra a pretensão dos vizelenses? (...)Porque será que quasi todo o povo das freguesias que os Vizela nos querem usurpar não querem pertencer àquele desejado concelho?"

Como bem sabemos esta luta iria continuar por muitos anos, com muitas episódios, levantamentos da linha de comboio, manifestações junto à Câmara Municipal até, finalmente, o que já se falava na década de 20 do século passado suceder e Vizela passar a ser concelho.

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