Estávamos em 1926...
O Vitória, recentemente fundido com o Atlético, dava os primeiros passos nos distritais, ainda quase como que a gatinhar. Um início em que os Conquistadores procuravam solidificar-se no panorama futebolístico, ainda que tivessem de superar diversas dificuldades organizativas que, futuramente, iriam colocar mesmo em risco a sua sobrevivência.
Porém, nesse ano, a equipa vitoriana já participava na máxima prova do distrito, tendo-se visto envolvida numa grande polémica com a equipa de Barcelos, pois o Gil Vicente, apesar de já fundado, ainda não participava nesta competição.
Assim, como escreveu o jornal Ecos de Guimarães de 13 de Março de 1926, os barcelenses, depois de terem actuado no Campo da Perdiz e perdido por duas bolas a uma, contra o conjunto vitoriano vieram queixar-se de uma recepção hostil por parte dos vimaranenses, nem sequer agradecendo o copo d'água que se seguiu ao jogo e que foi em profunda contradição com o que "um sr. doutor, como há muitos, permitiu-se escoucear a torto e direito, proferindo frases arrogantes e agressivas contra a gente desta terra. Contava o homenzinho, e isso lhe valeu, com a educação dos nossos rapazes que souberam manter-se à sua altura, deixando asnear o tal sr.doutor."
Porém a referida publicação, atinha-se ao facto, acima de tudo, de tratar-se de mau perder, já que "perderam o 2º lugar do campeonato e aí é que lhes dói, e eis tudo. Aí é que lhes dói."
Na verdade, as acusações do clube adversário eram rebatidas com tudo o que houvera sucedido na primeira volta em casa deste, quando "esquecem as vaias da populaça, esquecem as fisgadas que ao nosso keeper foram dadas, esquecem inclusivamente a agua sujíssima que no hotel lhes deram para se lavarem."
Assim, concluía-se que "as violências de que dizem ter sido alvo, porque dando publicidade ao que lhes convém, fingem ignorar o que se passou em Barcelos..."
O supostamente sucedido geraria indignação jornalística em Barcelos. No jornal local, "A Opinião", o repúdio pelo que alegavam ter acontecido, levava a que fossem denunciados uma série de factos, que mais uma vez teriam pronta resposta no já mencionado Ecos de Guimarães, mas agoras e 03 de Abril de 1926.
Assim, o escriba do referido jornal, de nome Sérgio Vidal, em direito de resposta, escreveria que "O articulista de A Opinião, que julgamos ser seu director, ao sair do campo de jogos, foi acometido de um forte ataque de nervos que o impossibilitou de ver serenamente os factos. Como num sonho, só ele viu o motim, os insultos e os batalhadores à pedrada. Batalhadores à pedrada, caramba! Só ele, só ele é que viu desferir tão terrorífica batalha."
Concluía, por fim, que "fui dos que saí do campo de jogos aquando os jogadores. Vim a pé porque não posso ter um Crysler e aos meus olhos não apareceu nenhuma batalha de pedras e aos meus ouvidos não soaram quaisquer insultos. Comentários irónicos? Talvez. Ao chegar à sede do Club, soube que um garoto atirara uma pedra que atingiu nas costas o Sr. dr. Gonçalo Araújo. Eis os factos. O resto é falsidade, despeito e mania."
E, assim, talvez, pela primeira vez, o Vitória era atacado por uma campanha despropositada da imprensa... porém, dos "batalhadores à pedrada" jamais se ouviu falar!