DA IMPORTÂNCIA DE MUMADONA NA CONSTITUIÇÃO DE GUIMARÃES E DE COMO DE UM MOSTEIRO SURGIU O BURGO VIMARANENSE...

A sua estátua junto ao Palácio de Justiça será incontornável. A figura de Mumadona Dias, do alto, vigilante da cidade, demonstrará a importância que esta teve para o futuro. Uma homenagem merecida e justa!

Porém, quem era esta mulher, de extrema relevância para o futuro?

Casada com D.Hermenegildo Mendes, como escreveu o Padre Torcato Azevedo, nas suas "Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães", viveu um período decisivo quando o seu esposo caiu enfermo. Com efeito, "estando D.Hermengildo doente, de doença de que morreu, ordenou sem testamento, e para testemunhas do que dispunha (...) mandou chamar algumas pessoas nobres; e presentes ellas, e sua mulher Muma Dona, ordenou por sua devoção, que ella podesse dispor do quinto de sua fazenda com pobres peregrinos, viúvas, orfãos ou igrejas, a que elle deu seu consentimento."

Após a morte deste, Muma resolveu proceder à partilha das fazendas, ficando D. Oneca, sua filha, e cuja toponímia homenageia na rua que vai do cemitério da Atouguia em direcção ao Rio de Selho, em Creixomil, com a quinta de Guimarães e ela com a de Creixomil.

Porém, "e como a tenção desta senhora era viver recolhida, e morrer santamente, quiz fundar convento em que se recolhesse, e pela quinta de Guimarães ser sítio e logar acomodado para isso", resolveu trocar de quinta com a descendente.

Assim, aí fundou o seu mosteiro "à honra do Salvador do mundo, e da Virgem Maria sua Mãe, e dos Santos Apostolos, ao pé da villa velha Araduca.", levando consigo "a imagem da Virgem Mariam que estava no templo de S.Thiago (...), aonde a continuação dos seus milagres fez grande concurrencia de gente, que de terras e lugares mui remotos era visitada..."

Nele haveria de morrer castamente, mas antes disso "fundou em uma penha forte no alto da villa velha Araduca, entre norte e nascente, um castello para guarda e defensa de seu mosteiro, a que pôz o nome de São Mamede" justificando assim a construção do castelo que, posteriormente, haveria de se tornar no símbolo da cidade.

Porém, o mosteiro recebia cada vez mais visitas de peregrinos desejosos de estarem próximo da imagem e, segundo o Padre Torcato Azevedo, "este foi o primeiro fundamento da nova villa de Guimarães."  Vila essa, distinta de Araduca", já que "esta nova villa de Guimarães", tinha jurisdição própria e tivera a sua origem perto do castelo, mas no burgo. Assim, "é certo que o Burgo deu princípio à nova villa: mas a velha havia muitos séculos que permanecia." Porém, a vila velha haveria de passar por um processo de despovoamento "e hirem seus moradores para a villa nova de Guimarães, porque na villa velha não havia fontes, nem em lugar vizinho", o que era motivo forte para a abandonarem.

O mosteiro, esse, haveria de permanecer até ao tempo do Conde D. Henrique, que, como sabemos, recebeu o Condado Portucalense por dote de casamento com D.Teresa, dado pelo pai desta D.Afonso VI. Assim, "já nesse tempo achou a villa nova principiada, e lhe deu foral, com o nome de Guimarães."

Valerá a pena transcrever uma parte desse foral: "Eu, o conde D. Henrique, juntamente com a minha mulher a infanta D. Thereza, nos pareceu por boa paz, e boa vontade fazermos carta de bons fóros a vós homens, que viestes povoar Guimarães, e àquelles que ahi quizerem viver, para que este Burgo novamente introduzido possa augmentar-se."

Tal denuncia outra interessante realidade, também, proposta pelo historiador consultado. Assim, àquele território chamava-se burgo, sendo os seus habitantes chamados de burgueses, ou Guimarães. Aliás, numa composição de 23 de Outubro de 1216 será possível vislumbrar-se as duas formas: Guimarães e Burgueses de Guimarães. O burgo haveria de cair para ficar só Guimarães...

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