COMO UM DESCONHECIDO JOGADOR PÔS DUAS FIGURAS VITORIANAS DE CANDEIAS ÀS AVESSAS...

António Pimenta Machado e N' Dinga Mbote.

Duas das figuras mais marcantes do final de século vitoriano, sendo o primeiro o presidente mais longevo da história do clube e o segundo um dos maiores símbolos de toda história e um dos atletas que mais vezes vestiu a camisola do clube

Porém, a relação que enquanto jogador e presidente foi muito próxima, quase filial, transformou-se e transtornou-se quando N'Dinga já abandonara os relvados após o final da temporada de 1996/97.

Imediatamente, foi-lhe oferecido um cargo de scouter, olheiro como então se dizia, para a região de África, onde o antigo médio ainda mantinha bons contactos. Assim, andaria o antigo jogador até finais do ano de 1998, altura em que se deslocou à Zâmbia para tentar contratar um jogador de nome Omar Banza e que, supostamente, iria integrar o plantel principal vitoriano. Porém, o antigo jogador demorou a surgir em Guimarães, o que levou Pimenta a acusar o investido olheiro de ter roubado o clube, pois nem apareceu com o dinheiro que lhe tinha entregue e muito menos com o jogador.

Por isso, andava o presidente vitoriano a acusar o, então, funcionário do clube de ter-se apropriado do dinheiro que lhe tinha entregue, quando surgiu N'Dinga com revelações mirabolantes: " Levei 15 mil dólares para negociar o Omar Banza, mas com esse dinheiro tinha de pagar as minhas despesas, pagar o bilhete do jogador, pagar manobras na Federação do Zaire para poder trazer o jogador e dar cinco mil dólares a um clube, do qual eu era vice-presidente, para que me arranjassem papéis que indicassem que o Banza vinha do Zaire". Uma explicação inesperado, ainda para mais pelo facto do atleta ser proveniente da Zâmbia, o que o antigo médio justificava de modo ainda mais inesperado ao afirmar que " passaria primeiro pelo Zaire, para eu arranjar o tal papel no Dauphin Noir (clube onde N'Dinga era vice-presidente) com o valor de 400 mil dólares. O papel diria o seguinte: o jogador Omar Banza foi adquirido pela Victory Management Limited e o seu passe custou 400 mil dólares."

Haveria de, em outra entrevista, explicar que esta empresa tinha três sócios, sendo um deles o presidente vitoriano."Foi ele quem me deu o dinheiro da sua conta pessoal, do Banco Comercial Português, para tratar de umas coisas."

Acossado, Pimenta em entrevista ao Sport, jornal desportivo semanal que, por esses anos, se publicava em Guimarães, não estaria com meias medidas, ao aludir que N'Dinga deveria estar-lhe eternamente grato ainda que lembrasse isso com uma ameaça velada, pois, "tirei-o uma vez da prisão, devido a problemas particulares, e para isso tive de falar com um juiz num fim-de-semana. Tirei-o daquela vez da prisão, mas penso que desta vez ele vai ter grandes problemas para se safar dela."

O antigo atleta, esse, assumira essa mancha do seu passado ao afirmar que "Vinha da Taça de África e fui ter à Renault Tovite para pagar 700 contos referentes a um carro. Tinha 500 na minha posse e prontifiquei-me a dá-los e depois pagava o restante. Disseram-me que só levava o carro depois de pagar tudo. Então deixei lá o carro. Fui preso porque o prazo da letra tinha passado. Errei mas aceito pagar por isso. Mas será que o presidente do V. Guimarães é um santo? Porque é que uma vez mandou comprar todos os exemplares de um jornal, onde trazia uma reportagem polémica sobre si?"

N'Dinga haveria de desaparecer sem deixar rasto, com os processos instaurados por Pimenta contra si, com fundamento em difamação e abuso de confiança, a correrem os seus termos no tribunal. Haveria, contudo, de regressar a Guimarães no dia do 78º aniversário do clube para apresentar um pedido de desculpas a Pimenta que as aceitaria e o convidaria para assistir no camarote presidencial à contenda entre o Vitória e o Salgueiros.

Não mais voltaria a Guimarães até ao dia 22 de Setembro de 2022, momento da gala do centenário do Vitória. Apesar de ter sido considerado contumaz pelo tribunal em 2002, a verdade é que nesse dia de festa, o abraço dado entre os dois intervenientes nesta história demonstrou que o machado de guerra estava definitivamente enterrado...

Postagem Anterior Próxima Postagem