COMO OS SÓCIOS MOSTRARAM A PIMENTA A SUA VONTADE, BATENDO-LHE O PÉ... AINDA QUE OBTENDO UMA VITÓRIA DE PIRRO!

Estávamos em Janeiro de 1989...

Uma Assembleia-Geral do clube prometia fazer aquecer os ânimos, atendendo a que na ordem de trabalhos estava uma proposta para que os associados do Vitória pagassem quatro quotas suplementares em vez das duas que já se encontravam estipuladas, o que gerou grande indignação em todos os associados. A incendiar, ainda mais, os ânimos, o facto de no jogo que iria ocorrer seguidamente à referia assembleia, com o Benfica, já ter sido anunciado que a quota especial iria ser cobrado, mesmo antes de ser tomada qualquer deliberação.

Por isso, naquela noite, no Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, a excitação e a indignação pontuava os espíritos. Aliás, como escreveu o jornal Povo de Guimarães de 27 de Janeiro de 1989, "a multidão acotovelava-se, enchia-o (ao espaço) completamente, atingia números das duas mil presenças, próximos dos grandes dias." Porém, de dia festa pouco mais haveria, já que "sentia-se, logo, nas primeiras conversas escutadas que o ambiente era de revolta..."

Revolta, essa, potenciada pelas condições em que se desenrolava a reunião magna, pois "as condições da sala eram péssimas, ninguém cabia lá dentro, o ambiente era profundamente desconfortável, ninguém ouvia ninguém "e tais factos poderiam ser conducentes a que o acto fosse suspenso e que, concomitantemente, o anunciado pagamento especial a efectuar no desafio contra a equipa lisboeta fosse anulado.

Aliás, perante as tentativas do presidente da Assembleia-Geral, António Xavier, em que a mesma fosse encetada, houve um sócio mais corajoso que, irrompendo da multidão, gritou que "ali não havia condições para uma sessão de um clube de bairro, quanto mais do Vitória..."

Era, pois, um braço de ferro entre direcção e sócios a que se presenciava naquela noite, com muitos em altos berros a afirmarem "eu só cá vim para votar não!"

Porém, Pimenta Machado na apresentação da proposta, ainda, tentou convencer os contestatários, justificando a medida pelo facto da situação financeira do clube ser má devido à política fiscal do país. "Em resumo, o Governo a partir do início de 89, exigia o desconto para a Segurança Social dos ordenados reais dos jogadores de futebol e estes descontos atingiam 3000 contos/mês, até Julho, encargos totais de 21000 contos não previstos, que a Direcção pretendia obter com quatro cotas especiais até ao final da época." A reforçar essa necessidade, o facto, segundo Pimenta, de "os Dirigentes do clube não podam emprestar dinheiro, porque o fisco lhes caía em cima."

Pensou-se que com a sua tradicional verve e oratória, Pimenta tivesse dado a volta ao texto. Assim, esperava-se que os quinze inscritos para intervir, viessem defender o Presidente...puro engano! Todos eles atacaram a proposta apresentada, trazendo para a discussão todo o tipo de argumentos. "A multidão rejubilava. Parecia a multidão revolucionária dos filmes do realismo socialista do assalto ao Poder. Parecia estar perto o momento em que o Clube seria, finalmente seu. Pimenta Machado queria que pagassem, eles diriam Não..."

Pimenta, esse, voltava a contra-atacar atirando a contestação à medida pelos medianos resultados obtidos pela equipa de futebol, afirmando que se tivesse realizado a reunião magna após o triunfo da equipa na Supertaça Cândido Oliveira, a proposta teria passado, "mas, nessa altura, as receitas estavam a ser superiores e eu admitia não precisar de dinheiro. Mas, agora, preciso..."

Até que se chegou à votação. Cinquenta sócios votaram a favor da medida, "e contra os restantes 1500, que nessa altura já, pelo menos, 500 pessoas tinham ido embora."

Porém, a história não acabaria aqui, com Pimenta, em golpe de rins, a dar a volta ao texto. Deste modo, depois de ter prometido aos sócios estudar novas formas de receita, "o Presidente foi mais longe e informou que, mesmo assim, os Sócios pagariam duas quotas suplementares, porque tal tinha sido votado em Abril de 87..."

A indignação voltou a subir de tom, "os sócios sentiram-se ludibriados, António Xavier estava desorientado. O Secretário da Assembleia lê a acta de tal Assembleia de Abril que nada esclarece, mas a Mesa acha que está bem claro que tinham de pagar..."

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