COMO O VITÓRIA SEDUZIU UM DOS SEUS PRIMEIROS GRANDES GOLEADORES...E GARANTIU UM FUTURO GRANDE NEGÓCIO...

Já aqui falamos de António Teixeira, o avançado contratado para a temporada de 1951/52 ao Benfica e que, na primeira parte dessa temporada, deixou o país de boca aberta com a sua arte e codícia goleadora. Como prova dessa capacidade, destaque para os quatro golos apontados ao Salgueiros, num triunfo por quatro bolas a uma, que fizeram os interessados perfilarem-se para o resgatar ao Vitória.

Porém, antes disso, a sua contratação terá sido um dos episódios mais pitorescos de cento e um anos de história e de histórias.

Assim, o jogador no início da sua carreira no final da década de 40 do século passado sentia-se insatisfeito com a sua vida. Formado no Benfica, a dar os primeiros passos como sénior, sentia-se pouco aproveitado. A ganhar 800$00 por mês como futebolista, via-se na contingência de conciliar o "prazer da bola" com a obrigação de outro trabalho que era o de torneiro mecânico. Por isso, atendendo à falta de realização pessoal e à necessidade de prover sustento à família que já existia, tomou uma decisão que parecia irreversível. Assim, seduzido pelo fascínio de África, onde estivera em digressão com o emblema encarnado, decidiu emigrar. Seria torneiro mecânico em Lourenço Marques e actuaria, por deleite, no Ferroviário.

Para o segurar, o clube lisboeta ainda haveria de começar a pagar-lhe 1.500$00, exigindo-lhe que treinasse quatro dias por semana... mas nem assim, a ideia de África saia-lhe de cabeça. Iria emigrar, dar melhor vida à sua família e aos filhos que antevia... era essa a decisão e havia que preparar as malas!

A dois dias do embarque, deu-se o golpe de teatro, já depois do Belenenses e do Sporting da Covilhã terem tentado que ele não rumasse às colónias, o que parecia impossível, pois, esperava-o um salário de 4.000$00.

Por esses dias, o Vitória andava afadigado em preparar o seu plantel para a temporada de 1951/52. O seu treinador, o húngaro Sandor Peics, corria o país em busca de jogadores. Por isso, e por coincidência, nas ruas de Lisboa, encontrou o técnico benfiquista, Ted Smith. Confessar-lhe-ia andar à procura de jogadores, sendo que o encarnado atirou-lhe: " - Tenho um avançado muito bom que quer ir para África. Talvez se falasses com ele..."

Imediatamente, iriam ter com ele, enquanto este estava mais entretido com as malas que deveria levar na sua aventura africana. Ted Smith, a trabalhar a favor do Vitória, diria mesmo: "O Benfica só aceita a sua transferência para a metrópole se foi para Guimarães, para o Vitória.", fruto das boas relações existentes entre os clubes.

Seria a sua família a desempenhar papel decisivo! Convencê-lo-iam, entre lamentos do adeus, a ficar. A proposta do Vitória era sedutora para a sua carreira: um ano de contrato e no final da temporada teria o direito a ficar com o seu passe na mão. Assim, desistia da aventura africana para seguir o sonho vitoriano e ser ídolo da Amorosa.

Com os seus 17 golos na temporada e com direito ao passe, parecia certo que seria perdido. Porém, o Vitória daria luta. Chegou mesmo a realizar uma Assembleia-Geral para os associados deliberarem se deveriam deixá-lo partir. Acabaria por ir, a troco de 150 contos, uma fortuna para a época!

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