COMO O MEDO DE MACHADO PEDIR DISPENSA AOS SEUS PATRÕES, LANÇOU UM JOVEM NICOLAU PARA UM VERDADEIRO PESADELO E O VITÓRIA PARA A MAIOR GOLEADA SOFRIDA NA SUA HISTÓRIA...

Aquela temporada de 1942/43 não foi fácil para o conjunto vitoriano. Assim, após ter sofrido uma dúzia de golos nas Salésias, num dia de absoluta desinspiração frente ao Belenenses, outra viagem a Lisboa, ao Lumiar, ainda assumira contornos de maior dramatismo, de maior sofrimento. Bastará dizer que o conjunto vitoriano, já possuindo o record da maior goleada sofrida no campeonato, seria capaz...de ainda fazer pior!

Assim, nesse início de Maio, o Vitória a alinhar com Nicolau; Lino, João; Castelo, Zeferino, José Maria; Dias, Miguel, Alexandre, Brioso e Costa seria derrotado por catorze tentos sem resposta.

Um resultado incrível, que segundo o jornal Os Sports de 03 de Maio de 1943, se ficou a dever à "ausência de três avançados que são habituais e mais importante ainda, a do guarda-redes Machado, explica o volume do score".

Seria a ausência do guardião, pai de Manuel Machado, que ajudou a explicar o tormento. Na verdade, este não compareceu à concentração, o que obrigou a desesperada medida, para os Conquistadores não jogarem desprovidos de guarda-redes. Assim, depois da comitiva vitoriana ter chegado a Lisboa, teve de deslocar-se a Campolide, ao quartel de Metralhadoras 1 para pedir a dispensa do avançado Miguel para o jogo. Lá chegados, os responsáveis vitorianos lembraram-se que aí, a prestar serviço militar, estava Nicolau, que, de vez em quando, aparecia aos treinos do clube.

Concedida a respectiva licença, o Vitória entraria em campo com guardião, ainda que este estivesse completamente fora de ritmo e completamente destreinado. Seria o prelúdio para a catástrofe com catorze golos sofridos e sem nenhum marcado, ainda que Alexandre tivesse desperdiçado uma grande penalidade.

Com a cidade e os vitorianos em polvorosa pelo sucedido, impunha-se conhecer as razões que levaram Machado a não comparecer ao jogo, sendo que o próprio haveria de reconhecer as suas culpas em entrevista ao Comércio de Guimarães de 18 de Junho de 1943: " - De facto, em parte, julgo-me culpado do sucedido. É possível, que, se a equipa fosse completa, tivéssemos ganho. Mas porque não me substituiu Ricoca, que foi e é ainda um bom jogador?"

Para além de levantar a pergunta de retórica assumiria um motivo ponderoso naqueles tempos de amadorismo, pois "custava-me pedir mais licenças aos meus chefes. Sei que a concederiam, mas não quis abusar da sua bondade."

Apesar disso, reforçava que tinha dito aos colegas que não iria viajar e "quando recebi o aviso para me apresentar, repeti ao cobrador o que vinha dizendo aos companheiros de equipa. Julgo que ele avisaria disso a Direcção do Clube."

Porém, ainda diria mais, envolvendo o seu parceiro de baliza, Ricoca, dizendo que "antes da equipa partir, passei na rua, e Ricoca estava à janela. Disse-lhe que não podia ir a Lisboa, e, portanto, que se preparasse, que decerto me iria substituir. Foi a única conversa que tivemos e, como disse, da rua para janela!"

A verdade é que seria suspenso, com um processo disciplinar, segundo o ofício do clube "até que fosse esclarecido o caso."

Machado haveria de voltar às redes vitorianas, ainda que aquela atroz goleada jamais pudesse ser apagada da história...

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