COMO O LUSITANO DE ÉVORA ROUBOU O GOLEADOR CARAÇA A TROCO DE UM EMPREGO E COM UM RAPTO PELO MEIO... "EM COISAS QUE SÓ ACONTECEM CONNOSCO..."

António Caraça houvera sido uma das maiores estrelas do Vitória naquelas temporadas de 1952/53 e 53/54. Com efeito, o alentejano contratado ao Benfica, depois de ter sido formado no Juventude de Évora, houvera sido a figura de proa nas equipas orientadas por Cândido Tavares e autor do golo decisivo que garantiu a manutenção vitoriana na temporada de 1952/53 num terrível e emocionante desafio frente ao SC Braga... que fruto desse golo caiu nos jogos de liguilha.

Por isso, era a grande esperança vitoriana para o exercício de 1954/55, em que os Conquistadores pareciam realizar uma forte aposta com a contratação do treinador inglês e tricampeão nacional, Randolph Galloway.

Porém, o defeso traria um doloroso revés que, em muito influiria na temporada. Caraça desapareceu de Guimarães, regressando ao Alentejo, pensava-se para gozar um período de férias. Viria a saber-se que tal deveu-se ao desejo de se comprometer com um clube da sua terra, o Lusitano de Évora.

Com o Vitória profundamente indignado pelo sucedido, os alentejanos usariam um expediente permitido na temporada. Com a conivência da Câmara Municipal de Évora, foi-lhe arranjado um emprego na autarquia, ainda que a 80 quilómetros da cidade, o que legitimou a sua desvinculação pelo Vitória, que iria sentir de forma dolorosa a sua partida... a ponto de no Notícias de Guimarães de 12 de Setembro de 1954 ter-se escrito que "a rebeldia de Caraça, estimulada por um clube, que pela segunda vez, nos tenta sonegar um jogador por processo menos lícito, são acontecimentos que, repetimos, parece que só acontecem connosco."

Ironia das ironias, o primeiro desafio daquela temporada de 1954/55 seria em Évora, contra o Lusitano, que, também, levara o treinador vitoriano, Cândido Tavares, para os seus quadros, perdendo a equipa vimaranense por duas bolas a uma, de pouco valendo o tento de Bibelino.

Como escrevia o Notícias de Guimarães de 24 de Outubro desse ano, "finalmente o jogador Caraça aparece transferido para o Lusitano de Évora, o castigo não é sancionado (o que é ainda compreensível), sem que ao Vitória fosse dada qualquer satisfaço ou indemnização." Por isso, óbvio seria que "entre as duas colectividades despontou um mal entendido que tão cedo não desaparecerá..."

Haveria, contudo, de tal assunto ser discutido em Assembleia-Geral do clube, onde o Engenheiro Alberto Costa lançaria uma verdadeira bomba. Com efeito, segundo ele, o jogador fora raptado nas Caldas da Rainha e coagido a comprometer-se com os eborenses...que pasme-se, eram dirigidos por um vimaranense radicado no Alentejo, num enredo de conteúdos novelescos!

Pior do que isso, a partida do jogador ajudaria à incapacidade da equipa em manter-se no principal escalão do futebol nacional, registando uma inesperada despromoção ao segundo escalão, naquele em que fora o ano em que mais apostara, principalmente com um treinador de créditos firmados!

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