COMO O GUIMARÃES QUE A TODOS ORGULHA MERECE VÁRIAS INTERPRETAÇÕES...

Confessamos... Aqui nas Histórias Críticas cada vez mais nos tem dado prazer calcorrear a história vimaranense, para lá do Vitória. Porque sem Guimarães jamais existira o Vitória e sem os passos da sua história, talvez não sentíssemos o emblema do Rei da forma como o sentimos.

Desde sempre, este modo de ser manifestou-se. Desde sempre a abnegação, bravura e valentia das gentes de Guimarães marcou pontos, ainda que, fruto, provavelmente, fruto de invejas desmedidas a história tenha sido distorcida...

Foi o que sucedeu com a "lenda das duas caras", que deveria ser motivo de enorme orgulho para qualquer vimaranense, mas que, muitas vezes, é usada por mal-intencionados (ou, até ignorantes) para rebaixar um povo que merece ter orgulho nas suas raízes, no seu modo de ser.

Antes de tudo, diga-se que a estátua, denominada de "O Guimarães" a retratar esse momento é bem visível na Praça da Oliveira, encimando o edifício que outrora foi os Paços do Concelho. Um edifício cuja construção foi encetada no séc. XIV, prolongando-se até meados do séc. XV, época em que reinava D. Afonso V. Entre os sécs. XVI e XVIII, o edifício foi alvo de várias reconstruções e reformas, recebendo a referida escultura em 1877, proveniente do antigo edifício da alfândega.

Quanto ao seu significado, tal merecerá várias interpretações, como refere o Professor Amaro das Neves, no seu excelente blog "Memórias de Araduca". Com efeito, segundo a lenda, que é reconhecida pelo site da Agenda Cultural de Guimarães, tal representação "segundo a tradição, guerreiro simboliza o duplo contributo dos vimaranenses nas conquistas em África."

Duplo contributo esse, que o referido blog, esclarece terá passado por "depois de tomada aquela praça marroquina, o rei terá distribuído a tarefa da defesa dos diferentes troços da sua muralha pelos contingentes de cada uma das terras que contribuíram com soldados para a conquista, protegendo-a contra o previsível contra-ataque dos muçulmanos. Como os de Barcelos teriam fraquejado nesta tarefa, os de Guimarães terão assegurado a defesa de dois troços, juntando ao que lhes tinha sido destinado aquele que os de Barcelos teriam deixado desguarnecido." Ora, tal levou a ser aplicado um castigo aos barcelenses, com"dois vereadores viriam varrer as ruas de Guimarães, em vésperas de dias festivos, com um barrete vermelho na cabeça e um pé descalço e outro calçado. "

Contudo, para o historiador tal parece ser lenda e com pouca sustentação. Assim, prefere valorizar o símbolo escrito no escudo do guerreiro. Este representa uma árvore (a oliveira), que nas suas raízes abraça o animal, numa intenção de personificar a cidade nesses símbolos.

Citemos o professor na explicação destes dois símbolos: "A árvore do escudo é a oliveira, elemento que, desde a Idade Média, está associado a Guimarães, figurando no brasão da cidade. Trata-se da representação da oliveira que dá o nome à Praça Maior de Guimarães, que esteve na origem de uma notável série de milagres, registados em meados do século XIV. O animal é um leão, que em geral se associa ao poder, à justiça, à força e à nobreza. Porém, aqui não está representado na sua posição de majestade, o leão rampante das representações heráldicas, mas sim deitado e subjugado pela oliveira, que se lhe sobrepõe e o domina com as suas raízes, que o envolvem como uns longo dedos asfixiantes. O que ali vemos é um leão caído e derrotado.

Se a oliveira representa Guimarães, vejamos o que representa este leão dominado. O leão foi assumido pelo rei Afonso IX nas suas armas reais, tornando-se na insígnia dos seus sucessores. Está presente, desde sempre, nas armas reais de Espanha. Nos brasões portugueses, simboliza, em muitos casos, uma aliança com a casa real de Leão (Espanha) ou uma concessão por ela outorgada. A figura do leão está, assim, associada a Espanha." Assim, a estátua mais não representará que a Guimarães indómita, de vontade inquebrantável, capaz de daqui bater-se contra Castela, fazendo um país começar, para posteriormente afirmar o seu apego à nacionalidade aquando de 1385 e em 1640 na Restauração da Independência.

Através da lenda ou da interpretação do Professor Amaro das Neves, os vimaranenses deverão ter sempre orgulho na representação escultórica que encima e embeleza uma das duas praças mais icónicas...

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