Jaime Pacheco tinha-se estreado como treinador do Vitória na semana anterior com um sofrido triunfo no último minuto em Faro. Eram as nuvens de chuva que pareciam querer dissipar-se, após uma primeira parte de época 1995/96 muito aquém das expectativas. Tanto, que o treinador Vítor Oliveira acabaria despedido e o brasileiro Carlos Alberto Silva quase contratado... gorando-se tudo por uma "cornada de um boi da sua fazenda" que o fez ficar de molho por algum tempo.
Assim, a aposta foi surpreendente... naquele treinador que pusera o União de Lamas a exibir-se de modo surpreendente numa partida da Taça de Portugal nas Antas, só não vencendo por ter desperdiçado uma grande penalidade na derradeira jogada do prélio. Segundo Pimenta, vinha de Lisboa a ouvir o relato e tomou a decisão que encarreiraria a temporada: Pacheco seria o escolhido.
Assim, como dissemos, depois do triunfo em Faro, seguia-se o Benfica, no primeiro jogo do treinador perante os adeptos. Os encarnados, esses, são sempre conhecidos por terem a chamada "vaca leiteira" em Guimarães e que, mesmo a jogar mal, são capazes de vencer.
Porém, nesse dia, durante 45 minutos, todos os vitorianos terão acreditado que a história teria um epílogo diferente. Com efeito, a equipa composta por Neno; José Carlos, Tanta, Vítor Silva, Quim Berto; Marco Freitas, Vítor Paneira, Zahovic; Capucho, Gilmar e Ricardo Lopes, perante apenas 5000 espectadores (provavelmente um record negativo nestes duelos), devido "à noite fria com alguma chuva à mistura. Transmissão televisiva. Quota especial para os sócios do Vitória. Quase final do mês. Etc, etc..." entrou em grande no jogo.
Na verdade, segundo o Notícias de Guimarães, "a primeira parte do Vitória foi mesmo espectacular. Especialmente o seu flanco direito trocou as vistas aos adversários. (..) Durante 45 minutos a equipa vitoriana esteve instalada no meio campo adversário", apontando dois golos nos primeiros vinte minutos da partida, por Zahovic e Ricardo Lopes. "Era um super-Vitória para um adversário de baixa qualidade."
Ao intervalo, o Vitória vivia um sonho lindo...que terminaria em pesadelo! Em dia de aniversário, o mítico guardião Neno teria uma segunda parte infeliz, que começou, logo aos 4 minutos da segunda metade, com uma saída infeliz à bola. O Benfica reduzia o marcado para, um minuto depois, empatar com um tento de Marcelo. Ainda não se tinha chegado ao quarto de hora da etapa complementar, num pontapé de canto, "Hélder atrapalhou Neno e, claro, foi mais um golo. De repente, passou-se do 2-0 para o 2-3, um autêntico suicídio."
Os encarnados, ainda, haveriam de chegar ao quarto golo, "num lance em que "Neno falhou mais uma vez e João Pinto emendou para o 2-4." O Vitória batia no fundo, depois de ter atingido o apogeu na primeira metade, numa noite em que "Neno matou as aspirações do Vitória que estava a jogar em grande ritmo, eufórico e demolidor, mas que na segunda parte acabou vergado ao peso de quatro golos inexplicáveis.”
Tal levaria Jaime Pacheco a lançar Nuno Espírito Santo na baliza, sendo a derradeira peça de uma engrenagem que fez uma segunda parte de campeonato absolutamente memorável, a ponto de ser "campeã da segunda volta."