COMO GOETHALS ABRIU AS PORTAS DO HEYSEL PARA O VITÓRIA ELIMINAR O BEVEREN!

Raymond Goethals terá sido o treinador mais mediático que alguma vez treinou o Vitória.

Porém, depois do escândalo de corrupção que o envolveu ao serviço do Standard Liége, foi a aposta de Pimenta Machado para a temporada de 1984/85. Nesse momento, juntava-se o útil ao agradável: Pimenta contratava um treinador conceituado, como já tinha feito com Pedroto, e o técnico belga encontrava na Cidade-Berço um porto de abrigo, depois do turbilhão em que se vira envolvido e que culminou com uma pesada suspensão.

Sem poder sentar-se no banco fruto dessa sanção, sem falar português o que levou a que Manuel Machado fosse escolhido para o ajudar como tradutor e encetando a sua carreira e com uma equipa baseada nos jovens que, dois anos antes, tinham sido vice-campeões nacionais, a época foi um verdadeiro fracasso.

Chegou-se mesmo a temer pela despromoção, o que fez com que a equipa se reforçasse, a meio do exercício, destacando-se, especialmente, Roldão que, ainda, hoje habita na memória vitoriana.

Por fim, Goethals haveria de conseguir a manutenção, partindo de costas voltadas com Pimenta, com acusações mútuas.

Porém, a relação desta com o Vitória, ainda, haveria de conhecer outro episódio. Estávamos na temporada de 1987/88 e, devido à brilhante prestação no campeonato anterior sob o comando de Marinho Peres, o Vitória estava de novo nos palcos europeus.

Depois de ter eliminado os húngaros do Tatabanya, seguiam-se os belgas do Beveren. Depois de Ademir ter dado o triunfo aos Conquistadores em Guimarães, o desafio da segunda mão na Bélgica não se antevia fácil.

Porém, do nada, surgiu uma saborosa ajuda. Goethals, que, como dissemos, saíra aborrecido de Guimarães com Pimenta Machado, teve uma atitude de enorme carinho e de dignidade para com o Vitória...ajudando-a a ultrapassar a eliminatória.

Assim, depois da comitiva ter chegado a Bruxelas, rumou a Jets, local onde actuava o Beveren, para fazer o reconhecimento do recinto e treinar. Porém lá chegada, os vitorianos depararam-se com um facto inesperado, mas, provavelmente, propositado. Na verdade, o estádio estava fechado, impossibilitado os Conquistadores de se prepararem devidamente.

Até que depois, surge alguém, proveniente do mítico Estádio do Heysel, hoje Rei Balduíno, casa da selecção da Bélgica, e que ficava a poucos quilómetros dali. Surpreendidos os vitorianos, ficariam a saber, mal chegados ao mítico recinto, que, tendo tomado conhecimento do sucedido, deu ordens de imediato para que a sua antiga equipa treinasse num dos recintos mais sagrados do futebol europeu.

Goethals haveria de assistir a todo o apronto, dissipando as saudades de antigos jogadores como Jesus, Costeado e Miguel, para, no dia do jogo, assistir ao desafio daquela que fora a sua equipa durante a temporada de 1984/85. Demonstrava assim que não viva de ressentimentos...

Haveria a sua máxima alegria, cinco anos depois, quando em Munique, a orientar o Marselha, bateu o AC Milan, conquistando a Liga dos Campeões! O único treinador da história que trabalhou no Vitória e que se sagrou campeão europeu!

Postagem Anterior Próxima Postagem