O futebol, por vezes, é irónico...
Uma ironia que parece ter algo de diabólica e que não é própria de algo terreno, e algo inventado por homens!
Aquele Vitória de 1988/89 terá conhecido essa faceta surrealista do jogo, personificada no seu treinador Geninho.... um homem capaz de fazer a equipa viajar depressa demais do 8 ao 80 para ainda a maior velocidade regressar ao 8.
Assim, depois de começar o campeonato nacional de modo extremamente negativo, venceria a Supertaça Cândido Oliveira o que o fez entrar para a eternidade vitoriana como o primeiro técnico a lidar a equipa profissional sénior rumo a um título nacional... algo que só 25 anos depois, Rui Vitória seria capaz de igualar.
Alternaria triunfos como frente ao Sporting ou o empate na Luz para de, modo inopinado, ser eliminado em Sines na Taça de Portugal frente ao Vasco da Gama que, na altura, disputava a Terceira Divisão Nacional numa das mais infelizes páginas da história do clube.
Contudo, Geninho saberia recompor-se... a ponto de a equipa chegar á vigésima sexta jornada do campeonato no quarto posto, a jogar um futebol sedutor e com o treinador na véspera do jogo em Chaves, a contar para a vigésima sétima jornada da prova nacional principal a jurar fidelidade ao Vitória.
Na verdade, como contava ao jornal Notícias de Guimarães de 03 de Março de 1989, "fui convidado pelo presidente do Santos para regressar", em virtude do treinador do clube da Vila Belmiro, que na altura era o inesquecível Marinho Peres ter abandonado o emblema brasileiro para regressar a Portugal e ao Belenenses.
Porém, o treinador era peremptório ao afirmar que "eu não quero ir para o Santos, vou falar com o Dr. Pimenta Machado, por uma questão de lealdade, mas agora não posso ir, devo-lhe isso. Confiaram em mim nos maus momentos e agora não posso voltar as costas. A proposta do Santos é tentadora, mas já comi os ossos, quero agora comer a carne e levar o Vitória à Europa. Vou ligar ao Dr. Miguel que não pode contar comigo!" Uma afirmação categórica e forte numa altura em que a equipa navegava na crista das ondas...
Porém, o pior viria depois... A alinhar com Neno; Nando, Germano, Nené, Basílio; Nascimento, René, João Baptista; Chiquinho, Silvinho e Roldão, o conjunto vitoriano seria derrotado por uma bola a zero em Chaves. Iniciaria aí uma série de seis jogos sem triunfar, em que só foi capaz de empatar em casa com o Nacional da Madeira e fora em Setúbal.
O estado de graça por isso despareceria e Pimenta, que já houvera decidido que o brasileiro não seria o treinador na temporada subsequente, mostrar-lhe-ia a porta de saída, para este lamentar que "tive contactos (...) do Brasil. Aliás não há uma semana que o presidente do Santos não me telefone, é que eu estou para o Santos como o Marinho Peres para o Vitória."
Na montanha-russa que foi a sua permanência em Guimarães, aquela recusa de regressar ao Brasil desencadeou a série que o faria ser despedido...coisas do futebol!