Como já escrevemos aqui, a utilização do estádio, então, Municipal de Guimarães pelo Vizela, quando estes ascenderam à Primeira Divisão, gerou enorme polémica nas duas localidades.
Ora se em Vizela, como já escrevemos, alguns vizelenses preferiam actuar em Braga, em Guimarães muitos sócios também se mostraram contrários
à possibilidade da equipa, então orientada por José Romão, jogasse em Guimarães.
Assim, foi decidido que o Vitória deveria auscultar a opinião dos seus associados em Assembleia-Geral, ainda que como escrevesse o Povo de Guimarães de 04 de Julho de 1984, "para a direcção o problema era simples: o clube virá a ser prejudicado caso a Câmara possibilite a utilização do estádio ao Vizela, dado que este iria usufruir de benfeitorias efectuadas a expensas do Vitória e por outro lado o relvado não aguentaria com uma utilização semanal para além dos treinos."
Para isso, a direcção liderada por Pimenta Machado, "embora contrariada, estaria de acordo, caso recebesse contrapartidas que enriquecessem o património do clube." Estas seriam: o arrelvamento do Campo da Unidade, a construção de um novo campo de treinos, a electrificação do estádio para a época 1985/86 e o pagamento de um débito de 3000 contos que, segundo Pimenta, existia da Câmara Municipal para com o Vitória por obras efectuadas no estádio.
Porém, mesmo assim, a Assembleia-Geral foi tensa e polémica. Sócios houve que "defendiam uma radicalização de posições e se pronunciaram abertamente pela não utilização do estádio pela Vizela."
Aliás, terão existido algumas intervenções demasiado radicais, "inflamadas de bairrismo doentio..." Por isso, "assistimos a algumas intervenções perfeitamente caricatas, com alguns sócios a proporem o arranque das balizas, electrocutar os jogadores do Vizela ou simplesmente impedi-los de entrar no estádio, num triste apelo ao ódio e à violência, chegando mesmo a Assembleia a estar ameaçada de descambar para este campo..."
O tumulto seria resolvido pelo presidente da Assembleia-Geral, António Xavier, que também era o presidente da Câmara. Sujeitando-se aos apupos dos presentes e lembrando os constantes atropelos à lei dos vizelenses, lembrou que todos os vimaranenses deviam ficar felizes pela ascensão do clube vizinho. Assim, "propôs o prosseguimento das negociações com a Câmara de molde ao Vitória obter o maior número de contrapartidas."
Com esta proposta que seria aceite, Vitória e autarquia marcariam pontos. Assim, os Conquistadores tiveram a garantia de realização das obras que, contudo, se dilatariam no tempo, e a autarquia agradava a uma parcela de população que via Guimarães como um rival.
Assim, estrear-se-iam os vizelenses em Guimarães contra o Benfica, num estádio em que o Vitória obteve a única vitória fora nessa temporada, frente ao vizinho...ironias do futebol!