O Vitória estava de regresso ao principal escalão do futebol português. Com efeito, depois de três anos nos escalões secundários, os Conquistadores estavam de volta aos grandes jogos e às grandes emoções.
Assim, apesar de terem começado o campeonato com uma pesada derrota no estádio do Luz, a verdade é que os jogadores vitorianos saberiam recompor-se, acabando a primeira volta daquele campeonato de 1958/59 no terceiro posto a um ponto do segundo posicionado Belenenses e a três do líder Benfica.
Benfica esse que era o adversário que o Vitória deveria encontrar na primeira jornada da segunda volta, numa partida que significaria a viragem do ano 58 para 59, atendendo ao facto da partida ter-se desenrolado a 28 de Dezembro.
Assim, nesse dia, como escreveu o Comércio de Guimarães de 02 de Janeiro de 1959, "no passado Domingo, Guimarães viveu um dia de grande alegria. Às primeiras horas da manhã, a cidade movimentou-se de tal forma, que dir-se-ia estarmos no principal dia das Festas Gualterianas. De toda a parte chegavam veículos cheios de adeptos do Futebol... os cafés, hospedarias e casas de pasto estavam à cunha."
Por isso, "o rectângulo encheu-se por completo, tendo o locutor pedido à assistência das bancadas para se levantar, para que pudessem caber mais pessoas. Era lindo o aspecto do rectângulo que registou a maior enchente de todos os tempos."
Com o Vitória a alinhar com Sebastião; Daniel, Silveira, Abel; Virgílio, João da Costa; Bártolo, Edmur, Carlos Alberto, Romeu e Rola, o objectivo passava por brindar o adversário com a primeira derrota desse campeonato, atento que o conjunto lisboeta chegava à Amorosa com um pecúlio de nove triunfos e quatro empates nas treze partidas disputadas na primeira volta do campeonato, ainda que a lesão de Ernesto Paraíso pudesse dificultar a vida aos vitorianos.
Se a tarefa tida pela frente já era difícil, mais haveria de ficar com a lesão sofrida pelo brasileiro Edmur nos primeiros minutos da contenda, que obrigou a equipa a fazer das fraquezas forças. Na verdade, "o muito querer dos atletas vimaranenses, superou todas as dificuldades, ainda mesmo a que sofreu, ao lesionar-se Edmur, que esteve fora do rectângulo algum tempo, e quando entrou apesar do seu esforço, apenas acusou a sua presença, passando a ocupar o lugar de extremo."
Por essa razão, "o Vitória recuou para a defesa, permitindo que os visitantes exercessem acentuado domínio, que não se concretizou em golos pela valorosa defesa vitoriana", com especial destaque para o labor do defesa Silveira e para as belas intervenções do guardião Sebastião que nessa tarde foi um verdadeiro muro.
Os golos esses haveriam, apenas, de chegar na segunda parte da contenda. Nesse período, "o Vitória cresceu, e apesar de jogar praticamente com dez homens (fruto da lesão de Edmur), assenhoreou-se do terreno, dominou abertamente, e todos os atletas foram de uma aplicação digna de todos os elogios."
O herói do dia, esse, haveria de começar a surgir aos cinquenta minutos. Falamos de Rola que ao bater Costa Pereira apontava o primeiro dos dois golos que iria fazer nessa tarde. Aliás, o Vitória seria feliz graças a uma sociedade de dois dos seus jogadores: Bártolo a centrar e Rola a finalizar por duas vezes, colocando os Conquistadores com uma vantagem segura na partida. Edmur, mesmo debilitado, marcaria um golo que foi injustamente invalidado, de pouco valendo o tento de Coluna a reduzir distâncias já perto do final da partida.
O Vitória acabava com a invencibilidade encarnada nesse ano e deu-se a loucura. "A assistência invadiu o rectângulo e trouxe aos ombros e em triunfo jogadores e treinadores. Chapéus, lenços e bandeiras confundiam-se num saudar de alegria que se comunicava a todos os sectores. Nas bancadas e peão havia olhos rasos de lágrimas e abraços estreitavam corações que pulsavam de alegria."
A equipa orientada por Mariano Amaro houvera conseguido o que ninguém ainda tinha conseguido e todos os sonhos eram possíveis...pena seria a quebra nos jogos subsequentes a minar um sonho lindo que chegou a existir!