Nos últimos dias, saltou para a ribalta uma frase de Paulinho Cascavel no podcast "Dezanove22", em que o antigo goleador assumia ter apontado um golo com a mão na partida dos oitavos de final da Taça UEFA de 1986/87 frente aos, então, holandes do Groningen.
Porém, a escolha dessa frase por um jornal de uma cidade vizinha, de uma forma completamente descontextualizada, terá sido apenas para apoucar o feito vitoriano, naquela que foi uma das mais belas tardes vitorianas em toda a sua história.
Estávamos na temporada de 1986/87. Aquele Vitória igualava-se aos maiores do país e, também, da Europa, já que nesse ano encontrou por três vezes o futuro campeão europeu, o FC Porto, só sendo derrotado por uma vez. Além disso, eliminou na prova uefeira colossos como o Sparta de Praga e Atlético de Madrid, até chegarmos a essa célebre eliminatória perante o Groningen.
Na primeira mão, o Vitória seria uma equipa a medir os seus próprios passos. A ajudar a isso, o facto de ter sofrido um golo precoce que a fez procurar chegar à contenda da segunda mão sobreviva. O que haveria de conseguir, mantendo a derrota por uma bola a zero que permitia que o resultado fosse recuperável na segunda fase da eliminatória.
Aí, no dia 10 de Dezembro de 1986, uma Quarta-feira de intempérie, mas com o, então, Municipal cheio, o Vitória entrou em campo com Jesus; Costeado, Miguel, Nené, Nascimento; N'Dinga, Basaúla, Adão; Ademir, Paulinho Cascavel e Roldão, o Vitória, como escreveu o Notícias de Guimarães, "entrou em campo com uma vontade forte, acicatada pelas dúvidas criadas em sua volta e que vieram de Lisboa..."
Assim, desde o início, os Conquistadores "encheram-se de brios e sentiram aquela vontade de mostrarem o que sabem e fizeram do encontro um espectáculo grandioso."
Um espectáculo grandioso que, na primeira parte, teve o seu apogeu nos tiros imparáveis de Nascimento e de N'Dinga, que levaram à loucura os vitorianos que enchiam o estádio.
Na segunda parte, como escreveu o Povo de Guimarães, "a superioridade futebolísitca do Vitória não se discute...". Acresce ainda que a "carga emocional é forte. É electrificante o ambiente." Chegaria o Vitória ao terceiro golo (o tal de Paulinho Cascavel, já com os Conquistadores em vantagem na eliminatória e, portanto, de pouca influência no desenlace desta história) pelo artilheiro brasileiro que, para sempre, figurará na centenária história do clube. "A descarga atinge as bancadas, o Vitória passa mais uma eliminatória europeia."
No final, "ninguém deu o seu dinheiro em vão. Todos viram que o futebol tem boa categoria mesmo jogado na província." Algo que o jornal o Minho, ardilosamente, tentou ofuscar mais de 37 anos depois, sem, contudo, ser capaz de apagar o primeiro grande feito de uma equipa da região na Europa do futebol!