sexta-feira, 4 de outubro de 2024

COMO A AF BRAGA INCENDIOU UMA CIDADE INTEIRA E AJUDOU A QUE O VITÓRIA PERDESSE O TÍTULO DISTRITAL

Uma capa de jornal... uma capa de um número especial de ano novo, naquele ano de 1935. A expressão de uma revolta de um povo e de uma cidade por uma decisão que lesara o seu símbolo maior, o Vitória.

Este houvera sido pela primeira vez campeão distrital de 1934/35. Um título conquistado frente ao eterno rival, SC Braga, graças ao golo do lateral Paredes na primeira mão da final, disputada no Benlhevai.

Por isso, era com expectativa que se esperava o campeonato seguinte, que poderia ser o da revalidação do ceptro e da afirmação vitoriana como a equipa mais forte do distrito.

Porém, assim não sucederia. Apesar de ter vencido os três primeiros jogos de enfiada, apontando treze golos e não sofrendo algum, a verdade é que seria na cidade vizinha, nos pelados mas também nos gabinetes da AF Braga, que perderia o título.

Nos campos seria em Braga que o Vitória sofreria duas derrotas, contra o Sporting local, mas também frente ao Comercial.

Mas seria, igualmente, na capital do distrito que uma decisão surpreendente e tida como injusta por todos os vitorianos que alteraria o rumo desportivo do campeonato... e tudo começou num jogo em que o Vitória não teve intervenção!

Assim, deslocava-se a comitiva do SC Braga para jogar em Fafe, quando à passagem pelo Toural terá sido apedrejada. Imediatamente, a AF Braga resolveu castigar o Vitória com dois jogos, obrigando-a a disputar as partidas na cidade vizinha.

Imediatamente, as instâncias vimaranenses levantaram-se contra a injustiça. O Notícias de Guimarães lançou mesmo um jornal especial, cuja fotografia ilustra estas linhas, mostrando-se contra a dita ignomínia, pois "os senhores directores da AF Braga, desprezando todo e qualquer conceito de boa educação, forjaram uma doutrina miserável e nojenta, atirando lama para quem não lhes pede lições de limpeza, e, cinicamente, choram em telegramas os seus bons propósitos -as pombinhas sem fel-, não lhes permitindo ver a estupidez com que tais telegramas foram redigidos nem tão pouco a consciência com que pretendem esboçar uma defesa."

A revolta era tanto que concluía a publicação que "Portugal inteiro há-de reconsiderar e saber que os dirigentes do Desporto no distrito de Braga são figura sinistras e maldosas, postas em molho de vilão ou servidas com café Brasileira..."

Tais palavras deviam-se ao facto de, após o castigo ser conhecido, o Vitória ter tentado com todas as suas forças revertê-lo. Por isso, ainda antes dessa indignação, a administração do clube vitoriano enviaria um telegrama à AF Braga afirmando que "nada tem esta colectividade com o que se passou quando da passagem do público e jogadores que se deslocaram a Fafe para assistirem ao desafio Sporting de Braga-Sporting de Fafe. O Vitória não tem responsabilidade alguma nem tam pouco pode estar à mercê de meia dúzia de garotos que provocaram esses incidentes." Além disso, garantia a existência de policiamento nos jogos de clube, de modo a que estes pudessem ser disputados em Guimarães” acabando a rogar  que “para bem do desporto, para o bom nome de Guimarães e que para os desportistas vimaranenses deem provas da sua boa educação (...) reunam extraordinariamente para resolver urgentemente a realização do desafio nesta cidade..."

A AF Braga responderia, causando a indignação que já demonstramos. Assim, manteria o castigo alegando que nada a movia contra o Vitória, mas era-lhe "impossível modificar a sua anterior resolução." Fundamentava-a com o facto da "secção de polícia ser insuficiente e diminuta para absoluta manutenção da ordem", que "ao conhecimento desta Associação e das próprias autoridades o facto de, ontem, mesmo dois cavalheiros de Guimarães terem vindo a Braga tratar de um assunto particular junto de alguém que merece a esta associação o maior respeito e que durante essa conversa (...) um dos visitantes referiu à visita que os de Braga haviam de fazer à sua terra: então sim, haverá o ajuste de contas (...) estou certo que não haverá força no mundo que tenha mão na malta para o ajuste de contas."

Assim, "de forma alguma não pretende alvejar os interesses do Vitória, nem a fidalga cidade de Guimarães," mas "que espera da lição desta época (...) devem começar a ter respeito pelos outros."

Deste modo, o clube era simultaneamente ilibado e castigado, devendo jogar o derradeiro jogo do Campeonato distrital em Braga, com a equipa arsenalista também a jogar em casa. Apesar das partidas terem sido marcadas para horas e recintos diferentes, o Vitória, em sinal de protesto, não compareceria ao jogo, que era contra o SC Fafe, no Campo da Ponte, perdendo-o por falta de comparência. Com ele, e de modo polémico, ia também o título distrital...


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