Já aqui se falou, por algumas vezes, da partida frente ao FC Porto, em 1994/95, quando uma invasão de campo por parte da claque portista, levou a confrontos dentro do relvado.
Confrontos esses que, como o livro de A Bola, referente à temporada desse ano refere, conduziu a "imagens arrepiastes na televisão, em jeito de intifada, polícias de cassetetes enristados, cabeças partidas, crianças espezinhadas, carros danificados, tiros nas imediações do estádio - os tumultos prolongados para além do final do jogo."
Da refrega resultariam 36 feridos que tiveram de receber assistência hospitalar, sendo 16 polícias. Um deles, de nome Ilídio Freitas, que por acaso era adepto do adversário do Vitória, de 43 anos, abandonaria o estádio pelas duas da manhã... morreria seis horas depois, ainda que não tivesse sido agredido durante os confrontos.
Presos foram dois, sendo um deles árbitro dos distritais. Falamos de João Castro, acusado de resistência e de agressão às autoridades, que haveria de denunciar que "depois de preso, ferido, no carro da polícia, cada vez que abria a boca, eles fechavam-ma a murro."
Pese embora o aparato, a verdade é que do relatório do juíz setubalense, Lucílio Baptista, nada constou, "porque não vi nada. Consultei o comandante da polícia e ele garantiu-me que havia total confiança, por isso dei início ao jogo.” Por essa razão, os factos, apenas poderiam ser analisados pelo através do relatório da PSP, o que levou Pimenta a desresponsabilizar o emblema portista: "Em princípio, as pessoas que se deslocam aos campos de futebol, devem ser civilizadas. Pelos vistos, as que estiveram neste jogo só se distinguem dos índios, porque não usam penas na cabeça! Nunca pensei que isto pudesse acontecer. Foi uma vergonha. Mas, os dirigentes portistas não tiveram culpa de nada, pelo que estes factos em nada alterarão as relações entre os dois clubes."
No dia seguinte, o estádio parecia um cenário de guerra: "redes de vedação caídas, bancos de suplentes partidos, estragos nas paredes e muito mais." Tal levaria Pimenta Machado a calcular o prejuízo em mais de 2000 contos, alertando que "infelizmente, esses prejuízos terão de ser suportados pelo FC Porto."
Por essas razões, os jogadores entraram em campo de mãos dadas. Um momento inesquecível, ver "durões" como Matias e Paulinho Santos de dedos entrelaçados, num acto de singela pureza, como a fotografia documenta.
Quanto ao jogo, vencido pelos portistas com um golo de Domingos, e com Pedro Barbosa a ter dois incríveis falhanços que, em caso de êxito, poderiam ter escrito uma história diferente, seria resumido na perfeição por Quinito, técnico do Vitória: "Os jogadores compreenderam que era importante colaborarmos para a realização de um bom espectáculo. Por isso mesmo, acho que foi um bom jogo. Se outra razão não houvesse, era importante esquecer os tristes incidentes que antecederam o jogo. Provámos que somos bons profissionais.”
Um momento absolutamente aterrador...