Estávamos no final da temporada de 1984/85 que não correra do modo desejado para o Vitória.
Por isso aquela Assembleia-Geral prometia ser escaldante. A aposta em Goethals não houvera resultado, na juventude muito menos, Pimenta não comparecera à última assembleia-geral, vendera Paquito para o FC Porto e mais do que isso, o proposto aumento de quotas gerava indignação nos associados que prometiam levar ao máximo a sua insatisfação.
Aliás, a mesma chegou a um nível crítico e com aquiescência de quem resolveu não usar da palavra de tal ordem que levou mesmo a que o líder do clube a declarar que não tinha condições para continuar, podendo a Direcção abandonar de imediato a liderança do clube... mas já lá iremos pelos contornos da história merecerem outro aprofundamento.
Refira-se, contudo, que o facto causador de maior indignação prendeu-se com o aumento das quotas, que atingiam, em alguns casos, 70% de aumento na bancada central, em que se propunha um aumento de trezentos e oitenta escudos para seiscentos e cinquenta escudos, ainda para mais num ano desportivo que fora uma completa desilusão.
Porém, o fogo cruzado haveria de começar com ataques à não comparência de Pimenta na última reunião de sócios, com um associado a referir que "O Sr. Presidente fez-nos cá vir todos à última Assembleia e, sem qualquer explicação não apareceu". Tal acusação obrigaria a rápida resposta do líder da direcção que afirmou que "não vim à última assembleia porque fui ao Brasil. Tenho sido muito atacado pela imprensa, mormente pela Bola, que é um jornal comercial. Só eu sei os processos não lícitos que já utilizei para segurar alguns jornalistas de A Bola."
Seguir-se-ia o momento que levou Pimenta a ameaçar o abandono imediato de funções. Tal sucedeu quando um associado, sem papas na língua, referiu que "fomos e estamos a ser enganados pelo Sr. Presidente. O Sr. disse que o Paquito era inegociável e ele foi para o Porto. No ano passado, apostou-se na juventude e, este ano, é na terceira idade. O Costa é velho. Os brasileiros são de 30 anos." Perante os aplausos dos adeptos, o presidente da direcção pegaria no microfone, para referir se a assembleia pensava assim, a direcção abandonava imediatamente o barco. Mediante tão inusitada interpelação, António Xavier, o presidente da Assembleia-Geral, teve de colocar à votação a seguinte deliberação: " Quem vota a favor de que a Direcção continue?” Apesar da votação de braço no ar não ser manifestamente declarada a favor do sim ou do não, entendeu-se que os órgãos sociais tinham carta branca para continuar.
Depois destes ataques e contra-ataques seguiu-se a discussão do aumento das quotas. Depois de vários argumentos a favor e contra, decidiu-se contar os votantes fila a fila, até que do nada, durante a contagem, alguém gritou: "- Esse não é sócio". António Xavier faria ouvidos de mercador à acusação, mas, depois da mesma ser repetida para outro presente, viu-se na obrigação de lhe pedir a identificação, o que gerou um verdadeiro tumulto no Salão Nobre Vitoriano. Por essa razão, pela uma hora e trinta da manhã, quatro horas depois da reunião ter começado, a mesma era suspensa por falta de condições. António Xavier, a concluir a atribulada assembleia, anunciaria a sua retoma para daí a duas semanas, para os sócios votarem nas diferentes propostas apresentadas em urna e mediante identificação associativa. Era a primeira vez que Pimenta experimentava a indignação dos vitorianos!