Naquele final de Março de 2004, os ânimos no Vitória estavam em ebulição...
A equipa sentia dificuldades para fugir aos últimos lugares da tabela classificativa e, mais do que isso, directivamente o clube não tinha paz.
Assim, iria ocorrer mais uma Assembleia-Geral destinada, principalmente, a aprovar os relatórios e contas referentes aos anos de 2002 e ao primeiro semestre de 2003, que, como escrevia o Desportivo de Guimarães de 30 de Março, face à ausência da direcção estes pontos da ordem de trabalhos não foram sequer discutidos. Contudo, refira-se, que estes eram os temas mais quentes da reunião magna, pois "segundo dados avançados pela imprensa, ambos os exercícios apresentam resultados negativos, sendo que as contas do 1º semestre de 2003 apontam para um déficit na ordem dos 340 mil contos."
Ora, como era da responsabilidade dos elementos directivos apresentarem estes números, as expectativas dos 3000 associados presentes saíram defraudadas. Porém, a bomba haveria de estourar quando "eram 23h07. Fernando Alberto Ribeiro da Silva, propôs-se a ser o primeiro orador no ponto mais aguardado da ordem de trabalhos." Numa intervenção eloquente e assertiva, haveria de questionar a plateia: "Devemos, ou não, pedir a marcação de uma Assembleia Geral Extraordinária para destituirmos a actual direcção?"
A maioria dos presentes responderia em uníssono, levando a que Amadeu Miranda apresentasse uma proposta que já trazia no bolso. Ainda que Pedro Xavier, o presidente da Assembleia-Geral lembrasse que estatutariamente eram necessárias 50 assinaturas para o requerimento poder ser pedido e analisado, tal "foi o que rapidamente sucedeu, com Domingos Miranda a reunir uma lista que contemplava muitas mais assinaturas do que as exigidas." Porém, esse requerimento haveria de ser retirado, ficando decidido entregar-se um novo uns dias depois, ainda que a data da próxima reunião magna ficasse logo decidida: seria a 14 de Maio de 2004
Contudo, antes disso, outro momento haveria de inclinar a decisão dos indecisos. Falamos do momento em que o presidente da Assembleia-Geral, Pedro Xavier, assumiu a ruptura com Pimenta, sendo que "contou aos sócios que foi alvo de pressões inaceitáveis para que desmarcasse a Assembleia Geral, confessou-se desiludido e amargurado e colocou mesmo o lugar à disposição." Todavia, os associados não haveriam de aceitar tal intenção, manifestando o desejo da sua continuidade. Tal levou a que abrisse o coração para dizer que, face às ausências de Pimenta, "já desci ao balneário várias vezes para falar com os jogadores, para os animar..."
Já no final da assembleia, produziria uma declaração mais formal. Aquela que deverá figurar para a posteridade: "Não entendo a posição do Presidente em faltar a esta Assembleia. É perfeitamente inadmissível ele não ter estado presente. Cabe-vos analisar se esta Assembleia terá marcado o início do fim da sua era, mas pelo que se passou aqui, não vejo muita margem da manobra."
Assim seria, ainda que essa Assembleia nunca se viesse a realizar... já que Pimenta demitir-se-ia antes, dando por findo um ciclo de 24 anos à frente do Vitória.