Foi uma das principais contratações para aquela temporada de 2000/01, em que se esperava que o Vitória trilhasse um novo caminho sob a orientação de Paulo Autuori.
Porém, como, por vezes, sucede na vida, nem sempre as expectativas são cumpridas...pelo menos no imediato.
E isso terá sucedido com Rogério Matias, lateral esquerdo contratado ao Campomaiorense, que, como reconheceu em entrevista ao Jornal de Expresso de 18 de Outubro de 2020, "O Vitória já estava interessado em mim quando estava no Maia." Porém, o casamento não haveria de se concretizar, pois "Eu sabia do interesse, só que o Campomaiorense ganhou a corrida, chegou-se à frente mais cedo, foi mais rápido. Eu não tinha nenhuma proposta oficial do Vitória."
Porém, nesse defeso de 2000/01 tudo seria diferente e Rogério tornar-se-ia Conquistador, sendo que percebeu de imediato que estava a atingir um patamar na sua carreira, pois, "na minha cabeça estava a subir mais um patamar e já estava a ir para um clube com outra exigência. Quando cheguei ao Vitória tive a perfeita noção de que estava a chegar a um clube grande."
Ora, se assim é, a exigência é incomparavelmente maior e o lateral terá sentido essa cobrança superior, também, pelo facto de não ter tido uma relação idílica com Paulo Autuori e as bancadas começarem a desconfiar do seu valor. A ajudar a isso, como confessou "Porque quando sou contratado para o Vitória, sou contratação do presidente e quando o Autuori veio trouxe com ele muitos brasileiros."
Tudo parecia contribuir para que o jogador tivesse uma passagem catastrófica pelo Vitória, sendo incapaz de confirmar os predicados que tinham feito Pimenta Machado apostar na sua contratação, como o próprio reconheceu ao dizer que "As coisas não estavam a correr bem a todos e particularmente a mim, a exigência era muito grande porque a massa associativa sabia que o Vitória tinha dado um valor substancial por mim ao Campomaiorense. As pessoas caíram em cima de mim,apesar de nada estar a correr bem à equipa."
Até que, de um momento para o outro, tudo mudou. Depois da aposta em Álvaro Magalhães não ter surtido o efeito desejado, o presidente vitoriano apostou as fichas todas em Augusto Inácio. Como Matias reconheceu foi o "treinador com quem treinei mais tempo, e gostei. Elevou muito a minha fasquia naquilo que é o treinar e o jogar e a exigência...", sendo que "foi um ano muito difícil em Guimarães, tivemos três treinadores e conseguimos safar de descer de divisão na última jornada. Um clube como o Vitória nunca pode estar nesse tipo de registo."
A confirmar esse crescimento do esquerdino, teremos de recordar o célebre desafio frente ao FC Porto, disputado a 12 de Março de 2001, e que começou do pior modo possível para este, ao apontar um autogolo que colocou o adversário em vantagem. Uma situação terrível, que poderia ter ditado a sua história no Vitória, pois, "Há um canto contra nós, eu faço autogolo e só pensei: "Vão matar-me aqui hoje à saída do estádio. Fiquei um pouco revoltado, porque nesse jogo as coisas até me estavam a correr bem."
Apesar disso, havia que continuar a tentar remar contra um destino que parecia traçado, a sua infelicidade constante no D. Afonso Henriques, pelo que " A bola vinha para mim e os adeptos assobiavam e eu nunca me escondi no jogo, pedia sempre a bola. Porque se me escondesse aí é que as pessoas tinham motivos para assobiar e cada vez mais, por isso tens de mostrar personalidade. Eu dizia: "Passa-me a bola, passa-me a bola."
Até que essa coragem seria recompensada... já depois de Sion ter igualado o prélio para Pena voltar a adiantar os portuenses no marcador, chegaria o momento do jogo. Num livre indirecto, receberia a bola, para disparar um verdadeiro míssil que se alojou no ângulo da baliza de Ovchinnikov, voltando a empatar a contenda.
Era o momento especial que necessitava para se soltar, já que "Parecia que tinha saído de cima dos meus ombros o D. Afonso Henriques. A partir daí as coisas viraram. É o tal clique que estava a precisar para me libertar do que estava a sentir e a passar, porque antes de sermos jogadores de futebol somos seres humanos e sentimos como qualquer pessoa ."
Após esse momento, durante várias épocas, seria uma peça incontornável no esquema vitoriano...ao ponto de ser o jogador que mais vezes vestiu a camisola das Quinas enquanto jogador do Vitória. O quanto um momento é capaz de mudar uma carreira...