Aquela época de 1998/99 não começara da melhor forma...
Na verdade, o Vitória, depois do terceiro posto do ano anterior, perdera o treinador Quinito, o que levou Pimenta Machado a realizar uma surpreendente aposta. Esta passou pela contratação para treinador do sérvio Zoran Filipovic, que já houvera jogado e treinado em Portugal, e que, antes de enveredar pela aventura vitoriana, houvera estado envolvido no Mundial francês, como treinador adjunto da selecção do seu país.
A verdade é que o novo treinador teve um início decepcionante, ao perder no Bessa, perante o sempre rival Boavista, por duas bolas a zero e em Vidal Pinheiro por três bolas a duas. Entre as duas desilusões no Porto, garantiria um único ponto num empate caseiro perante a promovida União de Leiria, num jogo em que a qualidade demonstrada foi a todos os títulos decepcionante. A piorar o cenário, a derrota caseira perante o Celtic de Glasgow por duas bolas a uma, graças a um inusitado desperdício de golos e a uma grande noite de uma lenda do futebol europeu, o sueco Henrik Larsson.
Assim, aquele jogo com o SC Braga assumia foros de determinante. Desde logo, porque a equipa ainda não se estreara a vencer no campeonato e acumulava com o jogo europeu quatro partidas sem triunfar. Uma verdadeira preocupação, atenuada pelas contratações de dois avançados: o sérvio, bem conhecido de Filipovic, Bojo Djurkovic e o jovem brasileiro Evando.
Era, pois, um Vitória ansioso de dar um safanão aos maus resultados, que entrou em campo naquela Segunda-feira, fruto dos compromissos europeus da semana anterior, dia 21 de Setembro de 1998, frente ao eterno rival e com muita gente nas bancadas...de cara pintada, não tivesse sido esse o dia em que se ficou a saber que houvera ingressado no ensino superior, mas simultaneamente, os novos estudantes das escolas secundárias da cidade ostentavam, orgulhosamente, esse modo de acolhimento.
O Vitória entraria em campo com Pedro Espinha; José Carlos, Arley, Alexandre, Quim Berto; Paiva, Vitor Paneira, Fredrik Soderstrom, Geraldo, Gilmar e o estante Djurkovic. O Notícias de Guimarães de 25 de Setembro de 1998 foi claro ao escrever que "o Vitória não esteve com meias medidas e decidiu dar um pontapé na crise. Não podia ter escolhido melhor altura."
Mais do que isso, a tornar o momento mais saboroso, "a vítima foi o Braga, o grande rival. Mas, podemos dizer, que fosse quem fosse o adversário do Vitória, na segunda feira, saía do Afonso Henriques com uma goleada." A confirmar essa asserção, o facto de aos 16 minutos, os Conquistadores já estarem a ganhar por duas bolas a zero, graças a dois golos de Gilmar, naquela que terá sido uma das suas mais belas tardes de Rei ao peito. “Com estes dois golos de rajada, o Braga ficava ainda mais desorientado e não conseguia fazer uma jogada com princípio, meio e fim." Tal seria reforçado pelo terceiro golo obtido por Vítor Paneira, ainda antes do intervalo. "Começava a desenhar-se uma goleada que poucos acreditavam ser possível."
Na segunda parte, o festival continuou. Gilmar chegaria ao hat-trick, merecendo levar a bola para casa, numa goleada do clube do Rei que teve o seu derradeiro golo graças ao esquerdino sueco, Fredrik. Ainda houve tempo para o canarinho Evando estrear-se, deixando água na boca a todos os vitorianos. No final, Alexandre apontaria num autogolo o tento de honra do adversário, num momento em que a mitologia vitoriana apontou ter sido fruto de um diferindo com o guarda-redes Pedro Espinha.
Eufórico, Pimenta Machado, dedicaria o êxito, sem saber que seria quase uma gota no oceano, aos sócios e ao treinador Filipovic. Não sabia, ainda, que a equipa iria acumular quatro derrotas consecutivas e que o treinador por si escolhido não haveria de chegar ao Natal...