COMO NAQUELA TARDE, O SONHO EUROPEU FOI TRAVADO...

A ilustrar estas linhas apresentamos fotografias inéditas. Tiradas pelo nosso leitor Carlos Tavares, estiveram, praticamente, guardadas durante 38 anos... no fundo, o tempo que medeia daquele dia 18 de Março de 1987 e o de hoje.

Verdade se diga que o conjunto vitoriano nesse ano fizera sonhar. Intrometera-se com mérito na luta pelo título e, acima de tudo, batera o pé a gigantes europeus como o Sparta de Praga, o Atlético Madrid e, por fim, um mais modesto Groningen...que foi atropelado em Guimarães pelo conjunto vitoriano, como se de um comboio se tratasse.

Por isso, para além de sonhos internos, existiam sonhos europeus... com a imprensa vimaranense, inclusivamente, a escrever que "neste momento, o Vitória não tem nada a temer. Poder-se-á dizer que só o futebol germânico é que poderá criar mais problemas. Mas de facto, quer venha o AC Milan ou o Barcelona, tudo pode ser possível..."

O autor destas linhas teria razão. Em sorte, calharia o Borussia Monchengladbach, uma das melhores equipas da Alemanha e que, logo no primeiro jogo, para além da sua qualidade, contou com dois factores que lhe foram favoráveis: o gelo que atordoou a equipa de Marinho Peres, que quatro dias antes tinha-se confrontado com o inclemente calor alentejano em Elvas, e o desacerto defensivo, consubstanciado na infeliz actuação de Heitor, e ofensivo, pois, apenas, ficara a dever a si própria a obtenção de alguns golos que poderiam ter deixado aqueles quartos de finais da Taça UEFA com um prognóstico bem mais aberto. Por isso, aqueles três golos sem resposta eram injustos e de muito difícil reversão... ainda que, naquela tarde, com estádio cheio, todos acreditassem que uma tarde perfeita pudesse abrir as portas das meias-finais da prova europeia.

Nesse dia, a alinhar com Jesus; Costeado, Miguel, Nascimento, Rui Vieira; Heitor, Basaúla, Adão; Nivaldo, Paulinho Cascavel e Ademir, como escreveu o Notícias de Guimarães de 27 de Março de 1987, " apresentava-se no terreno com jogadores habituais titulares, mas ainda assim plenos de força e de entusiasmo, e pretendentes a um lugar na equipa principal, homens que esperaram por uma oportunidade para mostrarem o seu valor. Nené e N'Kama ficaram nas bancadas por castigo da UEFA, Roldão e Carvalho sofreram duplamente: não jogavam e padeciam de mazelas contraídas no jogo com o Benfica." A juntar a estas dificuldades, uma das estrelas da temporada, o zairense N'Dinga "em claro mau momento de forma, ficou no banco."

Com tantas dificuldades, a empreitada a erigir ainda se tornou mais difícil e pior ficaria quando, ainda antes dos 30 minutos de jogo, ao aproveitar uma saída extemporânea de Jesus, Bakalorz abriu o activo. Se a missão era difícil, com este golo tornava-se impossível. Tratava-se de "um golo frio que não aqueceu sequer os poucos adeptos do clube alemão. Um golo que dava uma machadada final nas pretensões, ainda que ténues do Vitória."

Porém, a equipa encheu-se de brios. "Havia agora que jogar o jogo pelo jogo, praticar bom futebol, pelo menos, ganhar o jogo." E a equipa tudo fez para que tal sucedesse, e Cascavel, quase de seguida, haveria de confirmar isso, ao empatar a partida.

Na segunda metade, os Conquistadores haveriam de chegar ao segundo golo por Ademir, "numa jogada em que Nivaldo tocou dentro da área para Ademir e este a chutar com raiva e força de ângulo difícil, fazendo a bola embater no poste direito da baliza de Kamps."

"O Vitória julgava-se teria a consolação da vitória neste jogo. Mas se a sorte nada queria com a equipa, a infelicidade voltava. Heitor ao procurar desviar a bola para canto, introduziu-a na própria baliza." Apontava assim um autogolo em cada uma das mãos da eliminatória, tornando-se decisivo no seu desenlace.

A conclusão final de José Eduardo Guimarães na crónica consultada era esclarecedora: "Terminava assim o sonho europeu do Vitória, sonho que acalentou com legitimidade durante muito tempo. Com um pouco de sorte e mais astúcia e o Borussia era bem um adversário à mão do Vitória."

Ficaria, contudo, até hoje, na memória a melhor campanha europeia da história vitoriana!

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