COMO AQUELE EMPATE EM CASA COM O FARENSE, COM PALHAÇADA DE UM ÁRBITRO DE LISBOA, ANUNCIOU A QUEBRA QUE NINGUÉM QUERIA QUE SURGISSE...

Aquela temporada de 1986/87 estava a ser inebriante. Capaz de incendiar todos os sonhos, fazer os adeptos acreditar num apogeu que a caminhada europeia ajudava a legitimar. O Vitória de Marinho Peres era de uma substância aveludada e fina, capaz de deixar boquiaberto qualquer adversário.

Terá tido, porém, um óbice que passou pelas poucas soluções que dispunha para além do "onze magnífico" que qualquer vitoriano recitará de cor. Um onze extraordinário mas que pouca continuidade tinha no banco de suplentes. Por essa razão, temia-se o que veio a suceder, com a equipa a ser incapaz de manter o ritmo que demonstrou em determinada fase da temporada, começando a perder pontos de modo inesperado, indesejado e que a incapacitaram de chegar mais alto.

O anúncio dessa quebra terá chegado com o empate caseiro perante o Varzim a um, ainda que o triunfo no Funchal perante o Marítimo, com golos de Aurélio na própria baliza e N'Kama no ocaso da partida, tenha todos feito acreditar que as notícias da débacle física vitoriana eram manifestamente exageradas.

Porém, na jornada seguinte do campeonato, a 22 de Fevereiro de 1987, uma tarde de Domingo de Sol resplandecente, e com o Vitória a alinhar com Jesus; Costeado, Nené, Miguel, Nascimento; Carvalho, N'Dinga, Adão; Roldão, Cascavel e Ademir, as dificuldades voltariam para ficar, pois nos onze jogos seguintes do campeonato, os Conquistadores haveriam de empatar por sete vezes, perder por duas, para só conseguirem triunfar em casa perante o Rio Ave e a Académica. Acresce, ainda, as eliminações nos quartos de final da Taça UEFA frente ao Borussia de Monchengladbach e na mesma fase na Taça de Portugal frente ao FC Porto.

Assim, nessa tarde perante o Farense, o árbitro lisboeta António Marçal, como escreveu o Notícias de Guimarães de 27 de Fevereiro de 1987, foi decisivo no empate final a zero já que "autênticas agressões ficaram por assinalar e só eram marcadas quando beneficiavam o infractor.” Por isso, relativamente à actuação do juiz, concluía-se que "armou uma palhaçada tão grande, que o mínimo que se pode dizer da sua acção, é que deu vontade de rir."

Além disso, "o Farense nada mais fez do que não deixar jogar. Raramente se vê um domínio tão intenso" ainda que "o futebol jogado por parte do Vitória foi muito mau. O Vitória não tem um tipo de jogo capaz de perfurar uma forte barreira defensiva, sobretudo quando está a ser ajudado por um árbitro incapaz." Estas artimanhas haveriam de impedir o conjunto vitoriano de bater uma equipa algarvia situada nos últimos lugares da tabela e cujo o empate a zero final soube a mel. Porém, "ao Vitória esse empate foi muito prejudicial e tem motivos para protestar contra uma arbitragem que profundamente o prejudicou."

Era o início do fim do sonho, ainda que "árbitros do Porto ou de Lisboa para jogos com o Vitória é um atentado à dignidade das arbitragens. Todos têm armado barraca em Guimarães. Lembramo-nos, por exemplo, de Joaquim Gonçalves que permitiu aos flavienses defenderem-se de todos os modos e feitos, com futebol e sem futebol, perdoando-lhes, pelo menos, três grandes penalidades indiscutíveis durante a primeira parte..." Porém, este era só um exemplo do que tinha sucedido e que merecerá uma história autónoma. Para a posteridade ficava a perda de um doloroso ponto...

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