RELEMBRAMOS JOSÉ ABÍLIO GOUVEIA, O PRIMEIRO DIRECTOR DO JORNAL DO VITÓRIA, MAS, ACIMA DE TUDO, UM ESPÍRITO EMPREENDEDOR, IRREVERENTE E QUE TUDO DEU À CIDADE E AO CLUBE...

Terá sido das figuras mais importantes e fascinantes do Vitória até ao final da década de 70 e sempre ligado ao clube até ao momento em que faleceu, em Novembro de 1996.

Mas, falar de José Abílio Gouveia será falar de alguém que, como confessou ao jornal do Vitória de Maio de 1976, "nasci em Fafe, mas sou de ascendência vimaranense." Tal seria determinante para criar um vínculo quase umbilical com a Cidade Berço.

Assim, viria estudar para Guimarães menino, justificando desde modo "a minha simpatia e amizade por esta terra estão vinculadas desde longa data e por isso sinto vivamente tudo o que a ela diga respeito e, como não poderia deixar de ser, ontem como hoje, muito especialmente tudo o que respeita ao Vitória..." Aliás, o seu primeiro contacto a sério com o clube do Rei seria como integrante de uma equipa de juvenis do clube, onde com 14 anos desempenhou as funções de guarda-redes.

Contudo, antes de se fixar definitivamente na cidade do seu coração, aos 19 anos a sua vida mudaria radicalmente. Assim, depois de "ter completado o Curso Liceal, fiz exame de admissão à Faculdade de Direito de Coimbra." Seria aprovado, mas decidiria não seguir qualquer carreira ligada às leis. Com uma faceta corajosa e ousada, com "o espírito de aventura, a influência de amigos e o desejo de conhecimento de um país de futuro arrastaram-me para terras de Santa Cruz."

Seria no Brasil que se estrearia nas artes da comunicação. Assim, escrevia textos radiofónicos, fazia programas radiofónicos, sendo que "dessa experiência na rádio, uma outra me surgiu nos jornais portugueses Voz de Portugal e Brasil e Portugal."

Regressaria a Portugal e a Guimarães em 1947, onde por não existirem, ainda, rádios "enveredei pelo funcionalismo público, pelo Instituto Nacional do Trabalho, que proporcionava viver nesta terra que considero minha." Porém, insatisfeito com o rumo que a sua vida levava, ousaria apostar na de comerciante...e abrir uma discoteca no Toural que estará para sempre ligada à história da cidade. Na verdade, era graças a ele e à cabine de som que montou no Toural que, aquando das obras que procederam ao milagre da reconstrução da Praça de Touros em, apenas, três dias, numa singular manifestação de bairrismo e de dedicação vimaranense, eram entoadas as ordens, as músicas de motivação e tudo aquilo que fizesse acreditar que o impossível era bem possível.

Graças à sua vida social, à sua rica experiência de vida e ao seu protagonismo social e "a minha grande amizade por Guimarães e pela sua principal colectividade desportiva" também, chegaria aos órgãos sociais do Vitória. Seria "Secretário, Vice-Presidente e agora (em 1976) Presidente Adjunto." Mais do que isso, numa manifestação de profundo desprendimento, admitiu que "Nunca me recusei a colaborar com qualquer Direcção que me haja convidado..."

Mais do que isso, foi o primeiro director do jornal do Vitória, verdadeira bíblia, durante muitos anos, para todos os vitorianos, ainda que atribuísse os louros da ideia ao "espírito dinâmico da Direcção presidida por Fernando Roriz que, por sua vez, me convidou para seu primeiro Director." Para ele, "reconhecendo a validade da iniciativa e a importância que a mesma representaria para o engrandecimento do Vitória e uma informação mais concreta dos seus problemas e anseios à massa associativa..."

Mas até à data do seu falecimento conseguiria fazer da sua sociedade A. Gouveia Lda. uma das empresas de referência da cidade, ser sócio fundador do Gabinete de Imprensa de Guimarães e manter um espírito irrequieto, irreverente e inconformista. Aliás, até na morte terá sido surpreendente, pois como escreveu o Povo de Guimarães de 08 de Novembro de 1996 "nada fazia prever a sua morte. Ainda há escassos dias, comunicara a este jornal a sua presença no jantar homenagem do seu velho amigo e contemporâneo Eng. Hélder Rocha." Não iria... mas, jamais, a sua memória será apagada da história da cidade de Guimarães e do Vitória... e, isso, será o maior dos seus legados!

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