COMO SEM SER CAMPEÃO, GIL LAMEIRAS É DAS GRANDES FIGURAS DA ÉPOCA VITORIANA...

Sejamos honestos... é sempre melhor vencer e levantar canecos do que perder e ver a festa dos outros.

Mas, num contexto de equipa B outros valores levantar-se-ão. E, ainda para mais, num clube na situação do Vitória, onde os jovens talentos devem competir no mais alto escalão competitivo possível, para, rapidamente, poderem saltar para a equipa A, reforçando-a, gerando mais-valias e evitando onerosas idas ao mercado.

E, Gil Lameiras, uma das maiores promessas da estrutura técnica vitoriana, percebeu isso facilmente, ainda que abraçasse um desafio que todos temiam, no início da temporada, que pudesse não correr bem.

Desde logo, pela equipa B estar a tornar-se uma amálgama de jogadores, sem um fio condutor facilmente visível, com treinadores escolhidos sem um perfil de coerência (pese embora, com capacidades). Acima de tudo, faltava identidade a uma equipa em que se esperava, apesar de ser mais jovem do que aquelas contra quem compete, os seus intervenientes pudessem jogar de olhos fechados.

Terá quem manda percebido isso. A escolha do jovem treinador dos sub-17 vitorianos que tão boa conta tinha dado de si dava a entender que o essencial houvera sido percebido. Que mais do que trazer jogadores desenraizados com os valores do clube, mais valia olhar para quem já conhecia os cantos à casa. E, mais do que isso, serem orientados por quem, desde que chegou ao Vitória, tem assumido que a filosofia, a ideia, o respeito pelos princípios de jogo são essenciais para o êxito.

Na verdade, já assim fora nos sub-17, onde lutou pelos lugares mais altos da tabela classificativa até ao final da prova. A sua equipa jogava bem, mas, acima de tudo, sabia o que fazia em campo. Não se perdia nos emaranhados em que a colocavam, percebendo-se exactamente que estava preparada para o desafio. Mais que os talentos que lá despontavam, como os Afonsos (Meireles e Vieira), Rodrigo Silva, ou os recém campeões europeus Zeega e Verdi, como tantos outros, o Vitória apresentava um modelo de jogo, um plano a cumprir com esmero.

E era isso que o Vitória precisava! Assumindo com risco o rejuvenescimento de uma equipa que parecia estar a bater num muro de uma estrada sem saída, o início até nem foi fácil. Além de lidar com essa equipa nova, onde só o capitão Denis dava alguma experiência, importava moldar os princípios, dar o roteiro completo para se chegar ao pote dourado, conjugando-o com os efeitos psicológicos necessários para o êxito.

Talvez, por isso, o início do presente exercício não tenha tido o começo que todos desejavam. Nos três primeiros jogos, o Vitória perdeu dois e empatou um (em casa foi incapaz de vencer os despromovidos Pevidém e Atlético dos Arcos). A partir daí, tudo começou a resultar. Poderíamos dizer por magia, mas não é verdade. Pelo trabalho, pela repetição, pela imposição de ideias, em suma, pela confiança no trabalho que estava a ser desenvolvido e do qual o treinador jamais se desviou um milímetro.

Por isso, com as vitórias do colectivo, começou-se a falar dos nomes individuais. No conforto do grupo, sobressai o indivíduo. Nomes como o guarda-redes Jota (não merecerá fazer a pré-temporada na equipa A e ser avaliado como alternativa?), o central Rika, o médio Diogo Sousa, os extremos Miguel Vaz e Noah, o genial Rodrigo Duarte, e mais alguns fizeram-nos ter esperança no futuro... em que, para além do êxito dentro de campo, acreditarmos no fortalecimento do conjunto principal a partir de casa.

Ontem, contudo, no último jogo do campeonato, na final do campeonato onde a equipa foi crescendo e tornando-se tão adulta como os velhos caminhantes deste campeonato, o Vitória foi derrotado na inclemência do desempate pelos pontapés de penalty. Triste, sem dúvida... mas o essencial estava feito e a equipa estará, para o ano, num habitat competitivo mais desejável. Um habitat que permitirá manter os atletas em estádios mais adiantados da sua formatação, ao invés de os ceder por empréstimo a outros clubes, como aconteceu a Gonçalo Nogueira, cedido ao Paços de Ferreira.

Por isso. ainda antes do jogo de ontem, Gil já era uma das grandes figuras da temporada vitoriana. Pelo facto de com o seu êxito, graças à crença das suas ideias, ter devolvido a esperança a um projecto que se temia ter entrado em espiral negativa. Por, na Liga 3, muito mais mediática e excitante, poder continuar a desenvolver as potencialidades de alguns meninos que conhece desde os sub-15, estando a crescer e a envelhecer com eles. Por ter demonstrado ter os pressupostos essenciais para um dia ser olhado com "olhos de ver" para chegar ao topo... no fundo, não dissemos, durante muitos anos, que o desenvolvimento integrado de atletas (e de treinadores) é meio caminho andado para o êxito?

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