COMO UM ESTRANHO ACIDENTE ABRIU AS PORTAS DA BALIZA A PEDRO ESPINHA E ACABOU POR ATIRAR NENO PARA A ESTRUTURA DO VITÓRIA...

Estávamos na preparação da temporada de 1997/98. O Vitória, orientado por Jaime Pacheco, partia com ambições de conquistar mais um apuramento europeu, tendo-se reforçado para isso em todos os sectores.

Na baliza a aposta para fortalecer o plantel recaiu num guardião que houvera dado boa conta de si nos clubes anteriores onde estivera. Falamos de Pedro Espinha, um guardião sóbrio e seguro, pouco dado a grandes voos mas capaz de gerar um sentimento de enorme tranquilidade nos companheiros de equipa e nos adeptos.

Contudo, a aposta nos seus predicados, segundo se previa, não seria para aquela época. Neno, já referência do clube, num estatuto que ocupará até à eternidade, era dono e senhor das redes vitorianas. Refira-se, porém, que tendo chegado ao clube em 1995/96 houvera perdido a titularidade na segunda metade dessa temporada, após um jogo infeliz perante o Benfica, para Nuno, para a retomar na temporada seguinte quando o jovem guardião partira para a Corunha.

Porém, nessa pré-temporada de 1997/98, um estranho incidente mudaria a ordem da baliza e faria Pedro Espinha assumir a liderança de uma baliza que se previa que fosse do guardião mais carismático da história vitoriana.

Com efeito, segundo Neno contou, em entrevista ao Expresso, "num treino fiquei agarrado às redes com os dentes. Aqui no Vitória quem fazia as balizas na altura eram os presidiários e eles faziam as balizas sem profundidade, em que a rede ficava colada ao poste. Defendo uma bola, caio para dentro da baliza e os meus dentes ficam agarrados à rede. E desloquei o maxilar, fui operado nessa mesma noite e estive de fora um mês e meio, dois meses. Entretanto, o Pedro Espinha começa a jogar, faz uma época brilhante, e eu claro, volto para suplente dele."

Apesar disso, continuaria como ídolo, onde quer que o Vitória jogasse. Uma verdadeira referência que "em todos os campos onde o Vitória ia jogar, quando eu ia para o banco, a bancada toda levanta-se e começava a bater-me palmas." Contudo, num homem em que a humildade era o seu principal traço de carácter, tal levava-o a questionar "Mas estes gajos estão a bater palmas por alma de quem?! Eh pá eu nem vou jogar, nem posso dar o meu contributo, estou aqui no banco. Está bem, é o reconhecimento daquilo que já fiz, mas gosto de receber palmas quando jogo, agora quando não jogo... isto parece um reconhecimento mas eu ainda estou no ativo, pá. Então aquilo martirizava-me um pouco a cabeça. "

Por isso, no final da temporada, com Pedro Espinha de pedra e cal nas redes vitorianas, Pimenta lançar-lhe-ia o desafio: integrar a estrutura como director desportivo, enquanto treinava com a equipa e assumia o papel de terceiro guarda-redes. Acabaria por aceitar, para só a morte o separar do Vitória em 2020.

Postagem Anterior Próxima Postagem